quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

• O fim do mundo amanhã

Cidadãos leitores deste meu blog, tenho boas e más notícias....

A boa notícia é que o mundo vai acabar amanhã, sexta, mas vamos ser todos recambiados para um planeta melhor.

A má é que vou ganhar o Euromilhões nesse dia mas isso não vai valer de nada porque no novo planeta os aérios não serão aceites...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

• O Ar, esse activo menosprezado

Hoje estou com uma veia neo-liberal, economicista e fiscalista, tudo junto. E com vontade de contribuir com uma modesta achega para a tão propagada "refundição" deste nosso país.

É que vejamos… os antigos gregos nos ensinaram que tudo na mãe natureza é constituído por quatro elementos essenciais: a terra o ar, a água e o fogo. E de todos estes só o ar ainda é de borla! Porquê?…

Antigamente, se queriamos terra para os vasos das plantas lá de casa, aqui pelas minhas bandas diziamos que iamos "roubar" - sim, assim mesmo, roubar, com sentimento de culpa, mas poucochinho, claro!… - com uma enxada, uma pá e um balde o bom do solo arável que existe no cimo da Serra da Amoreira, lugar bendito. isto porque se fôssemos a um horto, tinhamos de pagar os sacos de terra boa para as hortências.

A águinha, como por exemplo aquela engarrafada da Voss, também tem um preço. Altíssimo, se dentro da sua minimalista embalagem de vidro de design moderno; muito menos caro na factura se tirada da torneira de qualquer casa na região rochosa da Noruega onde este H2O mineral brota. Mas de resto em ambos os casos é da mesmíssima água que se trata. Ah, pois! Não sabiam ainda esta?...

No que toca ao fogo, os fósforos, os isqueiros, as acendalhas, os briquetes, o álcool ou o carvão, tudo isto tem de se adquirir com aquilo com que se compram os melões. 

Agora o ar não. Sempre foi de borla. E não é justo que este status quo se mantenha por mais tempo.

Um estado, nomeadamente o português, hoje tão depauperado, além de ter de garantir a sua soberania sobre a terra dos seus solo e subsolo e da água dos seus rios e mares também deveria garantir essa soberania sobre o ar acima da nossa lusitana terra e mar.

Além disso, o ar que respiramos, afinal, não é mais do que um produto de consumo. E o estado português sustenta instituições que têm de zelar pela boa qualidade do ar, esse produto tão corrente. Logo, pela lógica do utilizador-pagador, tão em voga, o estado deveria procurar com um imposto garantir a existência dessas instituições e a manutenção do serviço público por estas prestado.

E o pior é que não é só o estado a menosprezar este activo tão valioso e essencial á economia. O sector privado também anda cego.

Senão vejamos: qualquer puto viciado em snifar cola de contacto pode ir encostar-se ao muro de qualquer fábrica de colas e vernizes em laboração para apanhar uma g'anda moca à pala! E quais de nós não gostam de usufruir de borla daquele odor açucarado que se espalha pela atmosfera às 2h da manhã na vizinhança de pastelarias com fabrico próprio? Ou o das panificadoras…

E ainda estamos apenas no plano do ar aditivado com compostos artificiais! Ainda faltará abordar a temática do ar não poluído. E sobre isso, há uma consequência desta crise socio-económica vigente que ainda ninguém parece ter notado. Estamos a ficar com o ar cada vez mais puro.

O sector industrial português está em desaceleração. Donde os níveis da sua inerente poluição se revêem em baixa. E o ar fica mais respirável. Para usufruto dos senhores da Troika e dos turistas seus conterrâneos, que não têm um ar tão puro lá nos países donde vieram! Não é justo! Se provocam a ruína do nosso tecido industrial, com esta austeridade torpe que tanto penaliza o consumo, deviam agora pagar por virem para cá gozar este ar limpo, que cá sempre o foi e ainda ficou melhor do que nas Alemanhas desta vidinha…

Vá, senhores governantes do meu país, vamos agora também fazermo-nos caros com esta corja de abutres que nos anda a comer as papas em cima de nossas cabeças! E não só com estes! Agora, quem quiser o nosso ar fresco matinal, esta mescla com toques suaves de maresia e de cheiro a campo*, seja um honesto autóctone ou um forasteiro bandido, vai ter de sacar dos dobrões, qu'é bem feito!
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* Cheiro a campo esse que é devido à bela da bosta das nossas pachorrentas vaquinhas, alimentadas por pastos bem verdes. E não com aquelas porcarias das rações animais que só anglo-saxónicos podiam ter inventado, com as manias que estes têm de pôr a economia acima de tudo. Perdoai-me, leitores... mas gente com essa filosofia e a que concorda com os sofismas que hoje aqui proclamei, o que mereciam era mandá-los todos à m...

domingo, 14 de outubro de 2012

• Tu te futas da minha gola!...

Hoje venho pôr por escrito uma impressão que me fica da análise do estado do mercado de trabalho em Portugal. Talvez particularmente na região da grande Lisboa, onde habito. Porque no resto do país não a imagino acontecer. 

Quem estiver a fazer uma pesquisa activa de postos de trabalho disponíveis hoje em dia, como eu tenho feito, vai provavelmente deparar-se com esta constatação: existe um grande número de ofertas de emprego publicadas para comunicadores de call-centers em línguas estrangeiras.

E os idiomas requeridos são os mais díspares! Não só os triviais Inglês e Francês. Mas também Árabe. Russo. Finlandês. Búlgaro. Sueco. Romeno. Dinamarquês. Mandarim. Húngaro. Grego. Holandês. Turco. Checo. Afrikaans. Ucraniano. Swahili. Polaco. Italiano. E é claro, o Castelhano dos nuestros hermanos calões e o Alemão dos boches cheios de guito. 

Um dia vi mesmo um anúncio com um título algo rísivel: "Austrian communicators to work in sunny Lisbon". Nem mais.

Parece que caminhamos para uma especialização particular - e talvez involuntária - da nossa mão-de-obra autóctone. A de estarmos a nos metamorfizar quase todos em operadores de call-centers ao serviço de grandes corporações do mercado global. Trabalhando em locais que serão a moderna versão da mítica torre de Babel.

Sabemos todos o fim que na Bíblia dos cristãos a torre de Babel teve… e temos o exemplo de um país inteiro, a Índia, que enveredou muito por esta especialização da sua exportação de serviços. Será que é bom termos o mesmo para nós?…

Bem… o que é um facto é que as "torres de Babel" florescem em novos edifícios de escritórios e parques empresariais de Lisboa e arredores, e não só. 

Já experimentei na pele e no espírito o que é ser-se mais uma unidade produtiva nesses antros, direi eu, de uma novel e sofisticada escravatura. Não já de trabalho braçal nos tempos modernos mas do intelectual. Que também provoca os seus desgastes, que não são de todo negligenciáveis na saúde humana. Mas isto não é nada de novo. Desde a perda do Paraíso terrestre por esses dois idiotas do Adão e da Eva que estamos condenados a ganhar a vida perdendo-a.

Na última empresa em que fui colaborador, um gigante da informática no Japão, que presta serviços de helpdesk técnico a algumas das maiores instituições financeiras e das chamadas commodities - como soe dizer-se em economês, esse estéril dialecto actual -, coexistiam só 17 das línguas acima mencionadas.

Tentei vencer o desafío que era trabalhar num ambiente cosmopolita e multicultural. Mas falhei por duas ocasiões. Em ambas era requisito essencial comunicar eficaz e fluentemente em Francês e Inglês, quer oral (chamadas telefónicas) ou escrito (emails, chats, aplicações CRM e de bases de dados).

E a minha conclusão foi esta: sou fluente nas duas línguas, de Molière e de Shakespeare, mas não o suficiente para o ritmo que a produtividade exigida impunha. Essa verdade era evidente sobretudo no Francês. Estava a transformar-me num emigrante no meu próprio país natal. A fazer aqui o trabalho de um francês a menos de metade do custo que este teria em França, para o mesmo cliente final.

Não. A coisa era boa mazé para os gauleses que aqui vivem - e nunca imaginei haver tantos assim como vi - ou para ex-emigrantes em terras dos Camembert*.  E como eu me deliciei a escutar estes últimos, a brincar com o seu perfeito bilinguismo… usando entre eles essa gíria - ou esse crioulo - que produz expressões lindas como a que dá título a este post.
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* Que é - segundo me constou num delicioso filme comédia, intitulado "Rien à déclarer" - como os belgas apelidam os queridos franceses que contam piadas dos primeiros, por tudo e por nada.

domingo, 7 de outubro de 2012

• O pano verde-rubro

Gentchi!!!...

Vamu relembrá e reavivá aquela manifestação de carinho que esse grande gaúcho, o Luís Felipe Scolari, nos incutiu na nossa alma colectiva.

Vamos todos pôr estandartes e bandeiras de Portugal viradas de cabeça para baixo em todas as portas, janelas ou varandas de nossos lares, imitando assim o inconsciente acto subversivo que o presidente Cavaco - esse símbolo da nação, para mal dos nossos pecados, a enxovalhar outro símbolo - teve anteontem, nas comemorações da implantação da nossa ainda jovem mas já vetusta República. 

Vamos todos mostrar o nosso não-apoio á equipa (governamental) de todos nós.  ;-)

É uma casa portuguesa, com certeza. É com certeza uma casa portuguesa. Hão-de dizer de nós os marcianos, com um sorriso amarelo mas ternurento… porque apesar de tudo, somos bué fofos e kiduxos com aqueles que nos governam. E que têm de dar contas à filha da mãe da Troika!... 

sábado, 6 de outubro de 2012

• Adriana Xavier

Cá vai um resumo do que aconteceu de deveras realmente importante - e quiçá original, que sempre é melhor ainda... - no passado mês de Setembro na vidinha política da nossa pobre e enxovalhada nação… isto na minha rasca perspectiva pessoal.

Adriana resolveu participar nas manifs. À sua maneira, demarcando-se com uma atitude individualista. Segundo alguns, que trataram mais tarde de a vergastar nas redes sociais, desolidarizando-se dos nobres objectivos de um suposto colectivo. Em boa verdade, uma amálgama de mentes quase dementemente reunidas em torno de uma vontade de gritar para não ficarem caladas.

E o que fez a nossa piquena? Tão-só afirmar que o importante é o Amor. E eu digo: "É verdade! A miúda tem razão…". É que já Gilbert Bécaud, esse kota gaulês, que gramou com o venerado Maio de 68, em anos idos nos lembrava isso.

Mas a inteligência da nossa praça pública está definitivamente cega. E "democraticamente", como convém, só admite os protestos em uníssono carregados de ódios. De lutas de classes. Corporativos. Militantes. Não tolera qualquer ruído que distraia o povo do essencial das suas reivindicações. Nem sob a forma da inocência de uma adolescente de coração puro.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

• Sem palavras…

E tantas vezes ando eu a autoflagelar-me e a crer que sou rasca!… 

A imagem deste post é um anúncio da Penthouse lusa, publicado na última edição desta revista de carácter cultural. Só mesmo cá é que a mensagem subliminar passaria… 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

• Capitalismo e Comunismo

Esta era a dualidade em que na segunda metade do século passado, após o último conflito mundial "quente", o mundo pareceu dividir-se.

Uma dualidade competitiva que impulsionou a corrida ao espaço dos seres humanos. Que os fez chegar à Lua.

Mas também uma bipolaridade ideológica que causou a proliferação de arsenais nucleares com o potencial para destruir a nossa Terra várias vezes de seguida.

Com Mikhail Gorbatchov e a sua perestroika esta clivagem da humanidade começou a esbater-se. Ao ponto de hoje o comunismo não ser mais do que uma curiosidade histórica.

O capitalismo tinha tudo para cantar vitória. 

Mas depois, sem uma força antagonista, como o era o comunismo, entrou num processo de destruição autofágico. Desenfreado.

O que faz como que eu me questione… 

Num estado, o governo é como uma mãe e nós, os cidadãos, semos os seus filhinhos. Toda a mãe que se preze é suposto cuidar da sua criação, certo?...

Nos regimes ditos capitalistas actuais, o governo é como uma jovem mãe toda moderna e junkie. Deixa os seus catraios andarem ao Deus-dará. Subnutridos e cheios de piolhos. Porque só tem olhos para essa cocaína que é a economia. A que está agarradíssima. Uma carocha de merda, esta desnaturada mãe!...

Nos antigos regimes comunistas, por outro lado, o governo era como que uma velha e esclerosada mãe-galinha. Super-protectora dos seus rebentozitos. Obstinadamente repressora de quaisquer desvios dos seus pintaínhos mais escuros. Um amor de mãe castrador, portanto.

A melhor mãe para todos nós deve estar, concerteza, aquela que se posicionar a meia distância destes dois casos que se extremaram com o tempo.

Será que ela existe?...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

• Também quero!!!...

Ora deixa cá ver!... Afinal, eu sou um candidato a presidente das Nações Unidas. E também já o fui à presidência desta nossa nação lusa. Portanto, também me sinto no direito de ter uma.

Bom, admito! Fui e sou um candidato fantoche. Mas precisamente por isso mesmo é que eu merecia, mais do que outros que p'rái andam, que alguma dessas universidades que p'rái existem me desse um canudo de licenciatura de fantochada.

E dito isto assim, há que pedir perdão pela redundância. Porque julgo que a maioria dos canudos obtidos no ensino superior português, desde a proliferação das universidades privadas, devem, concerteza, ser de fantochada. Da treta. 

É que... Não vos parece, leitores, que só damos de caras por aí com doutores da mula russa???… Acaso não vos haveis perguntado amiúde, a meio duma reunião qualquer, isto: "em que porra de sítio é que este gajo andou a estudar?".

Mas voltando ao meu canudozito… Em que raio de curso superior é que eu me formarei?… Em que área é que eu não faria má figura, mesmo não tendo estudado a ponta dum corno? 

Já sei!!! A minha licenciatura oficial será em: Estudos astrológicos aplicados à macroeconomia global

Tenho dito. Afinal, esta é uma área do conhecimento humano em que até as maiores broncas são perdoadas com absoluta naturalidade aos mais supra-sumos crâneos humanos.

sábado, 30 de junho de 2012

• Cidadania à séria

Existe um lugar neste Portugalito onde vale a pena ser cidadão como deve ser! E não rasca, como o autor deste blog.

Por várias razões. Porque o lugar é de uma beleza rara e sublime, incomparável com o resto da paisagem lusitana, tal como Lord Byron nos fez ver. Porque lá em cada mais pequeno recanto se respira paz. Porque o ar que na serra e no mar nos enche os pulmões refresca até a alma. Porque lá todas as pedras contam histórias. Porque até lá apetece ir sempre. E estar. E viver.

E porque existe nesta terra abençoada de Sintra um bem organizado Banco de Voluntariado, quiçá exemplar para todas as restantes Câmaras Municipais da nação valente e imortal. Em que o acto de querer ser voluntário é de facto escutado. Em que são propostos aos cidadãos que querem voluntários reais desafios. Em que a dádiva desses cidadãos é mesmo não desperdiçada.

E é por isso, concerteza, que abnegados voluntários são lá em grande número. Nobre povo aquele, sim senhor.

Sintra vale mesmo a Pena.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

• Mar de calmaria

É o que tem sido este mês de Maio. Águas paradas. Vento ameno. Que vira as páginas, como se estas os dias fossem, uma a uma.

Mês de sementeira feita. A esperar que os frutos venham. Promessas de boas - excelentes, mesmo - colheitas a caminho. Ventos de feição se levantarão, para a navegação rumo ao futuro.

Maio arrancou, comigo andando aos caídos. Entregue às traças. Mas este final do mês está a ser agora um turbilhão crescente. A ponto de não ter havido lugar de pôr a escrita em dia. E até este post parece só para picar o ponto... E é.

Mas bem… Isto não é um muro das lamentações. Boa fortuna vem por aí. Já lhe sinto o perfume bem intenso. E há no ar um cheiro de terras distantes. Todas misturadas.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

• Reciclem-me!...

Burj Khalifa Tower, o edifício
mais alto do mundo, no Dubai
No passado sábado, nesta ânsia de arranjar um novo emprego, fui a um evento denominado Open Day, promovido pela companhia aérea dos Emiratos Árabes Unidos: a Emirates.

Esta transportadora aérea tem neste momento, segundo nos afiançam, cerca de... 200 - sim, duzentos! - novos aviões em fase de encomenda, da Airbus, sobretudo. E querem assegurar, naturalmente, os profissionais em número suficiente para as diversas tripulações de bordo destas aeronaves todas.

O evento que refiro aqui foi, portanto, uma sessão de recrutamento de RH (recursos humanos). Para a função de Cabin Crew, especificamente. Que a Emirates está a tratar de organizar em dezenas das cidades mais importantes deste globo terrestre. Para info sobre o calendário destes eventos, clicar aqui.

Foi a entrevista de emprego mais surreal e deslumbrante a que alguma vez compareci, em toda a minha vidinha!…

Hospedeiras da Emirates,
com o seu peculiar uniforme
Imaginemos esse estereotipo da personalização da beleza feminina que é a hospedeira de bordo, na sua versão mais optimizada: alta, magra, bem trajada, bem cuidada, cabelo apanhado em rabo de cavalo atrás, porte irrepreensível, na faixa etária dos seus vinte anos, etc. Multipliquemos um tal exemplar ideal por trezentos. Temos assim um verdadeiro concurso de Miss Universo.

Eis o habitat de sonho em que me vi inserido, durante quase todo o santo dia desse sábado!...

Além de senhoras, também se encontravam lá um quase igual número de varões pré-trintões. Todos dum modo geral bem ataviados, as well. Embora não tão bonitos quanto as damas, vá, conceda-se…

A Emirates suscita assim um enorme interesse junto das pessoas que já trabalham nesta área. A grande maioria das pessoas que ali estavam davam a impressão de já serem de outras companhias aéreas, como a TAP Air Portugal, sobretudo.

É sem sombra de dúvida uma grande companhia aérea, a Emirates. Que pode oferecer condições de trabalho e de remuneração bem atractivas, ao nível do país que representa, os UAE, na sigla oficial que o designa em inglês: United Arab Emirates. É um empregador que nos promete todo um package salarial e de fringe benefits feliz.

Panorâmica nocturna do Dubai,
do alto da Burj Khalifa Tower
Mas a Emirates também pode dar-se por contente de ter a felicidade de assim conseguir cativar a nata da juventude dos países do chamado mundo ocidental. Até porque estes se encontram mergulhados num período de crise bem feia, devido à especulação desenfreada grassante nos mercados de capitais. Que transforma as economias destes países em algo tão instável e imprevísivel como jogos de azar em casinos.

Talvez a incerteza também atinja os UAE, mais tarde ou mais cedo. Mas enquanto isso não acontece, aquilo parece ser a sociedade ideal para viver lá. Uma rica vida assegurada para quem para lá queira emigrar, segurança pública garantida, bem estar social como não há em outra parte do mundo, atracções mil para os tempos livres, uma população urbana cosmopolita (cerca de cem nacionalidades a conviver harmoniosamente), etc.

Paragem de autocarro no Dubai,
equipada com ar condicionado
No evento foi dada informação sobre a cidade em que teríamos de passar a residir, caso fossemos seleccionados. A cidade símbolo do séc XXI, Dubai. E um dos factos referidos que mais me impressionou - entre muitos, apesar de eu ser uma pessoa já bem conhecedora dessa realidade extravagante que são os UAE - foi este: as paragens de autocarro no Dubai, devido ao clima quente, são uns confortáveis cubículos de paredes de vidro, com um design bem moderno e atraente, equipado com portas automáticas e com… ar condicionado.

O lema da Emirates é "Hello Tomorrow".  Apetece mesmo reciclar-me e renascer como um cidadão dubaiense, palavra!…

terça-feira, 17 de abril de 2012

• I need badly to get a job!

"Para que é que todos nós viémos ao mundo?" - perguntou à turma toda o professor de Religião e Moral, essa extinta disciplina escolar do currículo do ensino secundário do Portugal no início dos anos setenta do século passado.

E o desafio filosófico foi sendo respondido pelos alunos, todos mal acabados de ser instituidos como teenagers, de várias formas. Para sermos felizes. Para construirmos algo que fique para além da nossa partida. Para vivermos bem. Para amarmos a Deus. E etc…

"Não." - contestou o mestre, rematando a questão. "Viémos ao mundo para servir. Uns aos outros.".

Bom… embora rapidamente tenha concordado com o dito conceito, também depressa o meu egoísmo se desencantou com a ideia de ter de fazer algo para os outros, sempre até ao fim dos nossos dias. Mas é um facto. Viémos ao mundo para servir.

Até o mais poderoso dos homens, seja o presidente dos Estados Unidos ou o Papa ou alguma obscura figura que mande na economia global, se esta personagem existir, afinal… até estes dedicam a sua vida inteira a servir-nos a todos nós, os outros, seus subordinados ou crentes seguidores.

Pronto, não há nada a fazer. É preciso servir os outros. E na idade adulta isso é sobretudo conseguido com o nosso precioso tempo que empregamos a trabalhar. Entregamos esse tempo a quem nos paga um salário. Que nos permite depois viver desse recurso. Salvo seja, porque nem sempre isso é suficiente para sobreviver.

Eu tenho, pois, de arranjar como justificar a minha existência. Como? Servindo. Trabalhando. E ganhando dinheiro. Para poder sobreviver. E assim poder continuar servindo. Os nossos avós Adão e Eva foram expulsos do Paraíso; portanto, lá terá de ser...

Bom… A mim não me querem como voluntário na ilha do Corvo. Que é como que um grande navio parado e decrépito no meio do oceano. Na boa. Tásse bem. Mas então… 

Vamos tentar arranjar emprego num navio em constante deslocação por este mundo todo. Num daqueles grandes paquetes de cruzeiro. A servir àqueles que já gastaram uma grande parte da sua vida a servir outros. Os míticos reformados da Flórida, sempre estereotipados com suas bermudas caqui e garridas camisas havaianas. Um dia troco de função com eles. Talvez…

Ou é isto os altos voos de que falava no post anterior a este… ou então ser assistente de bordo numa companhia aérea. A servir uns abastados sheiks árabes. Pelo menos é o que o destino me está a botar à frente na presente comjuntura.

Vamos ver o que sucede. Tenho de fuçar bué to get a job. Aqui apenas a escrever estas linhas que ninguém lê é que não estou a servir para nada.

Tenho de me tornar num cidadão como os outros: útil. Não só rasca.

terça-feira, 10 de abril de 2012

• Falsa partida

Na ânsia de me sentir mais útil à sociedade - mais do que sendo apenas um bobo duma inexistente corte, que presume ser engraçado no que escreve nuns blogs que poucos cibernautas lêem, ou ninguém mesmo - resolvi tomar a iniciativa de me oferecer como voluntário para o que quer que fosse numa reduzida parte desta Terra sob soberania nacional, mas muito esquecida. 

Tal como eu, que ando muito desprezado pela humanidade e pelo mercado de trabalho. Deve ter sido por isso que tive a ideia peregrina e romântica de me pôr ao serviço duma comunidade tão pequenina quanto eu próprio me sinto.

O que eu pretendia com isto? Quiçá umas fériazitas de 2 a 3 meses, com alojamento e comidinha garantidas por algum bom criador de vaquinhas frísias e produtor de queijo do Corvo. Tentando ajudar o homem nos cuidados com os seus animais e pastos. Por exemplo. Ou fazer algum serviço burocrático para o município local ou empresa de transportes. Ou qualquer tipo de dinamização socio-cultural.

Não deu. Contactei a Câmara Municipal do Corvo, como mencionei num outro blog, cujo link está no texto acima, no primeiro parágrafo. Respomderam-me com amabilidade. Ao menos deram-me essa atenção. Mas que não precisam de voluntários. E julgaram que as minhas intenções eram arranjar um emprego na função pública na região autónoma dos Açores…

Dá-me vontade de proclamar… Hoje em dia postos de trabalho são bens tão escassos que não me atrevo a disputá-los com os demais, se a minha subsistência neste planeta puder ser assegurada com uma prestação de serviços a troco de cama, mesa e roupa lavada, para quem me adoptar como criança grande.

Já não vou perturbar a pacatez da ilha do Corvo. Que esta fique bem tranquila, lá no meio do Atlântico, como sempre. Tanto melhor para os corvinos e os cetáceos seus vizinhos… e talvez para mim também.

Porventura mais altos voos me esperam.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

• Reencarnação

A Páscoa é um período em que os cristãos decidem que é mister falar de ressurreição. E, claro está, de quem ressuscitou: Cristo, himself.

Como sou um cidadão às avessas - ateu militante, inclusivé; embora apreciador da personagem histórica de Jesus -, venho hoje aqui lembrar desse fenómeno que é a teoria da reencarnação. E o exemplo que me sobreveio para ilustrar isto, caramba!… É nem mais nem menos do que o do… Anti-Cristo!

Oh, que porra! Eu até gostava tanto destes bichanos, que são tão fofos, genericamente falando… Rejubilai e cantai todos comigo, em coro agora: 

"A-tirei o pau ao gato-tu-tu…" *
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* E não é que para mim passou a fazer um razoável sentido esta absurda canção infantil, cuja letra sempre me intrigou desde petiz?…

Para escutar a banda sonora original (OST) deste post, clicar aqui.

domingo, 1 de abril de 2012

• É na Terra Não é na Lua - o filme

Cartaz do filme
"É na Terra Não é na Lua"
Fui assistir a este interessantíssimo documentário na sua noite de estreia, no passado 29 de Março, no Cinema City Alvalade, nesta desgraçada capital Lisboa.

Em boa hora o fiz!… Porque esteve para me dar a louca de ir viver por uns tempos para estas paragens açorianas. Até cheguei a contactar a respectiva Câmara Municipal do Corvo, oferecendo-me como voluntário para qualquer tipo de trabalho ou missão comunitária a exercer naquela ilha. Que pancada a minha, senhores...

Se bem que rasca até à medula, eu sou mais um cidadão urbano do que rural. Embora às vezes me fuja a tendência para o contrário, nem sei explicar porquê... O que sucede é que o Corvo já muito pouco terá da ruralidade de antanho, a avaliar pelo que absorvi.

Chocaram-me alguns fenómenos retratados neste filme. Como por exemplo: uma ilha com ainda não poucas vaquinhas produtoras de bom leite, com idílicas pastagens a ajudar, importa… paletes de pacotes tetra-brik de leite dos lacticínios Nova Açores, às carradas!!!

Existe na ilha uma queijaria que parece tender para abandonar a sua actividade. E esta seria a principal entidade a absorver o leite mugido localmente. E nas imegens recolhidas, esse leitinho parece ser-nos mostrado que vai - literalmente - para os porcos.

É que já nem uma pequena produtora de queijo artesanal demonstra ter vontade de vender os queijinhos que diz manufacturar com amor e carinho. E só a vemos agora a marcar presença na missa quotidiana das 16 horas, para rezar seus terços mecanicamente.

E depois, os corvinos até podiam para mim ser todos pessoas simples. Ou até simplórias, que não vinha mal ao mundo nenhum por isso e até era uma coisa genuína. Mas não…

Tinham de acolher no seio da sua comunidade alguns idiotas também, como no resto do mundo dito civilizado. E isso é que me dá uma destas revoltas aos fígados...

Um gajo que levou p'rá ilha a mania do tuning. E circula feito chunga com um Peugeot 207 diesel pelas ruas da pequena vila sempre com o som a bombar, mal o veículo arranca. 

Outro tipo, senão o mesmo, achou que era premente trazer para aquele fim de mundo um Audi TT descapotável, havendo apenas praticamente uma única estrada para curtir o prazer de conduzir!…

Mas o campeão do pouco juízo foi um político local do PPM que tinha como principal cavalo de batalha, insurgindo-se contra os governos da república portuguesa e o regional dos Açores, pelo facto dos serviços locais da administração fiscal funcionarem de forma sazonal. Apenas alguns dias por mês. Impedindo os corvinos de cumprirem os seus deveres atempadamente com o fisco. Oh, c'um caraças!!!…

Quem dera que a repartição de finanças cá da zona funcionasse assim! C'a g'anda tótó!… Ou eu não estou a ver bem a cena, ou então o fisco nos Açores não chateia apenas o povo contribuinte para pagar. Também será como que umas grandes tetas para todos mamarem.

Mas de resto, os corvinos mais antigos são uns queridos. A D. Inês Inêz, então, é a melhor de todos. E continuo a julgar que vale a pena visitar a ilha por um dia ou dois.

Só não vale a pena é fugir para lá, acreditando que esqueceremos os nossos problemas. Sobretudo os do foro sentimental.
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Uma palavra final para os autores, que deixei também registada no guestbook do site oficial do filme:

Parabéns, Gonçalo Tocha e Dídio Pestana. O vosso documentário é de um humanismo extraordinário. E vocês foram dois excelentes voyeurs dessa realidade singular que é a vida no Corvo. Do belo e do grotesco. 

Obrigado pelo que foram buscar para nos dar a todos nós, corvinos e não-corvinos. 
Giuseppe

segunda-feira, 26 de março de 2012

• Foi despedido? Reaja!...

Imagine o meu caro leitor que está muito bem da sua vidinha, a passear e tudo, numa bela tarde de sol. Eis senão quando, alguém longe do lugar onde você se encontra se lembra de seu nome para entrar numa lista. E pede a uma qualquer HR department assistant - geralmente designam uma estagiária para estas cenas - para entrar em contacto com o seu nr. de telefone móvel…

Pum! Tás morto. Foste convocado para aparecer um quarto de hora antes da tua hora de entrada ao serviço quotidiano. Vais levar um chá de duas pessoas a contar-te sobre medidas extraordinárias. A dizer-te que como tu há mais uns quatro ou cinco que vão ser alvo dessas medidas. E que já não precisas de trabalhar nesse dia.

Tudo bem! Tu até não estavas já a ter pica nenhuma no que fazias. Isto até é uma oportunidade para dar uma reviravolta neste marasmo de vida. Okay. Mas…

Se nos dão um coice, porque não podemos ripostar só um pouquinho? Só p'ra chatear…

Eu racionalizei a conjuntura assim: nos dias de hoje, o mercado de trabalho deteriora-se a olhos vistos. Todos os dias se perdem vários postos, sem haver uma renovação desse número com outros novos em quantidade suficiente. Ou seja, aqui cada vez somos menos úteis, cada um de nós que cai nas malhas do desemprego.

Então, o que fazer? Rumar a outras paragens onde as capacidades e energias nossas ainda possam servir a uma comunidade. E a esses oferecer os nossos préstimos como voluntários. Por vezes quem mais precisa de nós nem sempre poderá porventura dar-nos a retribuição do nosso tempo, esforço e dedicação de que mais carecemos ou que ambicionamos.

Mas então, dir-me-ão, com isso nada resolvemos da nossa vida e continuaremos na fossa! Não tem de ser necessariamente assim…

Eu passo a explicar. Hoje em dia, um voluntário que se oferece para ir ajudar com o seu savoir-faire um pequeno país que dele precise, como Timor Leste ou São Tomé e Príncipe, ou um território remoto dentro das nossas fronteiras, como a ilha do Corvo, tem de garantir previamente a sua subsistência durante a sua missão. Como? Recorrendo a um patrono.

E onde encontrar esse Mecenas, se anda tudo à rasca nos dias que correm? E por isso as empresas dispensam trabalhadores, como se expulsassem anticorpos. Ora, vejam bem, a primeira porta a quem fui bater foi justamente aquela que se me fechou nas costas.

Apelei à consciência e à responsabilidade social de quem me demitiu. Para patrocinar toda e qualquer acção de voluntariado em que eu possa vir a ser engajado. A empresa talvez já não possa suportar o custo do meu salário. Mas as organizações têm sempre verbas que reservam para doações a causas sociais. E os estados incentivam isso com reduções nos impostos a cobrar.

De modos que é isto. Tomemos esta atitude. Digamos "Okay, vocês já não podem continuar a pagar-me. Já não vos sou necessário, tão pouco. Mas há-de haver alguém, algures neste mundo, que precise de mim. Como eles podem não ter dinheiro, eu dou-me como voluntário. Vocês assim abonam-me nesta iniciativa?…".

É uma ideia doida, eu bem sei. Mas já não tenho nada mais a perder. E pu-la em prática.

Porque interiorizei que o meu futuro está no voluntariado. Quero voltar a sentir-me útil. Se tiver de o ser no terceiro mundo, que seja. Esta maldita civilização ocidental está a prazo a reduzir-nos todos a tipos rascas, mesmo!...

segunda-feira, 19 de março de 2012

• Greve Geral a 22 de Março

Cartaz do movimento Ocupar Tudo
No próximo dia 22 de Março deste anno da graça de 2012 - que não está a ser mesmo, mesmo nada engraçado, por sinal - vai acontecer mais uma Greve Geral. Que será respeitada, com certeza quase absoluta, pela grande maioria dos trabalhadores que se podem dar ao luxo de a concretizar.

Ou seja, os funcionários públicos ou de empresas estatais ou intervencionadas pelo estado. Os mangas de alpaca de repartições públicas e os do sector dos transportes colectivos, também públicos. Os do costume.

Os outros, os de empresas privadas, arriscam muito a manutenção do seu posto de trabalho se vierem a se atrever a não bulir nesse dia. O que é pena. É como se a lei e quem deve zelar pelo cumprimento desta não quisesse saber de proteger todos por igual.

Talvez seja um pouco por aí que surge um movimento, que julgo expontâneo e não alinhado com algumas das chamadas forças da concertação social, vulgo sindicatos. Que pretende também dizer presente a 22 de Março. Que quer soltar um grito. Que já basta.

Acho que vou gritar com eles. Porque é bom que não sejam sempre os mesmos a gritar. Porque o grito desses é cada vez mais rouco e previsível. Sobretudo por isso, vou dizer o slogan dessa coisa em que nunca pus os pés: Eu Vou.

Venham daí também, leitores. Vamos fazer esta terapia de grupo.

terça-feira, 6 de março de 2012

• Perdoai-me...

Perdoai-me, meus raros leitores, este grito prenhe de linguagem bem rasca. Mas lembrai-vos que até um dia J. Cristo se exaltou com os vendilhões do templo de Jerusalém. E eu sou humano. E já há muito que estou farto.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

• La política

"La política es la prostituta más cara que hay ahorita. Y la más fea, además."
Subcomandante Marcos*

E o fatal do seu proxeneta é a economia, Marcos!… Apraz-me acrescentar. E perdoa se te estrago o raciocínio, meu caro Subcomandante.

Esta economia mundial, da qual todos dependemos, em maior ou menor grau, que subjuga hoje em dia todo e qualquer ideal político, independentemente da sua valia, justiça, oportunidade ou humanitarismo.

Nem que a santa desta rameira quisesse, um dia por outro, vá lá, ser boazinha con nosotros… aparece logo o odioso cabrão do chulo a cortar as vazas porque sim e a lixar isto tudo!… 

E o pior é que a economia global é um Adamastor que criámos e que não sabemos agora dominar. E nem sequer os melhores "biólogos" responsáveis por este monstro conseguem prever os movimentos aleatórios dos seus tentáculos e a dimensão dos danos que podem causar. Nem aqueles que estudaram em York...

Não há ciência em que eu mais despreze o seu saber e os seus mentores que a economia.
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* Esta frase é extraída do contexto de uma entrevista realizada ao Subcomandante Marcos, líder do EZLN, Ejército Zapatista de Liberación Nacional, pelo jornalista Jesús Quintero, no programa "El Loco de la Colina", da cadeia estatal de televisão espanhola TVE. Para ler a transcrição dessa entrevista, clicar aqui. Para ouvir a primeira parte desta no YouTube, clicar aqui.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

• Não sejam piegas!...

Foi na segunda-feira passada, ao final da hora normal de expediente, no hipermercado Continente do C. C. Colombo, nesta Ulisseia que aguarda a vez que a tragédia grega se abata também sobre nós. 

Depois de ter andado a tarde toda a preencher fichas de inscrição e a anexar CV's a estas, em candidaturas expontâneas a empregos nas depauperadas empresas que ainda não faliram na República Portuguesa, fui rematar o meu périplo a fazer umas compras de géneros alimentícios para encher a malvada ao jantarito.

Estou com uma amiga que ainda mantém o seu emprego mas que está a receber um rendimento salarial bastante mais encurtado neste ano aziago que só agora arrancou. E por isso se viu forçada a me pedir para a ajudar, emprestando-lhe uns trocados para adquirir com que comer e pagar algumas contas até ao fim do mês.

Foi essa minha amiga que reparou nela. Naquela velhinha com trajes andrajosos, que contava as moedas pretas na palma da sua mão, para se assegurar que poderia comprar uma sopita, daquelas que se vendem já cozinhadas e embaladas em recipientes plásticos selados. Um artigo de custo aproximado de 1 euro ou 2…

"Tudo somado, concerteza que não vai dar para cobrir as minhas despesas."... Era esta a infeliz frase alheia que ecoou na minha memória naquela altura.

Claro, não era a senhora velhinha que a pronunciava… mas podia ser muito bem ela a pensá-la. Decerto alguns reconhecerão que a frase que evoquei acima saiu da boca de um desbocado algarvio que é o detentor actual do cargo público mais elevado e honorífico - mas que é tão copiosamente desonrado - que entre nós existe e que é por voto directo do povo outorgado.

A minha amiga não pôde suportar tal visão. E repartiu umas moedas do pouco que lhe emprestei para que aquela pobre senhora tivesse também, como nós todos, a sopa que a reconfortaria. Houve algum receio que o seu gesto fosse mal recebido… mas depressa ouvi um "Obrigado, minha filha; Deus te abençoe.", que me sossegou.

A boca do natural de Boliqueime que citei atrás tem-se mantido calada, nos últimos dias… O que é natural. É um homem que teve educação superior em economia, numa das melhores universidades do Reino Unido. E anda tratando agora de economizar as palavras, que às vezes esbanjá-las sai bem caro!…

E depois, talvez também escute as palavras de sabedoria de outro conterrâneo seu, António Aleixo*. Que embora se diga que seria bem menos letrado que o primeiro, talvez o batesse largamente aos pontos em sensibilidade, humanitarismo e sagacidade. São do nosso Aleixo, justamente, estas duas quadras que se seguem:

Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do Mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

Se o presidente da república Cavaco Silva lesse este blog, talvez lhe recomendasse a mesma lição de moral que o nosso actual primeiro ministro, Pedro Passos Coelho, quis dar aos portugueses nesta era de folia desautorizada ao povo: "Não sejam piegas!…"
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* Para consultar uma resumida biografia de António Aleixo, vide um recente post num outro blog meu, clicando aqui.