domingo, 24 de abril de 2016

• NIF? Isso come-se?…

- Quer factura com número de contribuinte?

- Não, obrigado. Não sou contribuinte. Deixei-me disso…

Este é invariavelmente o diálogo que interpreto cada vez que vou comprar algo. Já conheço esta deixa e o texto que tenho de dizer de cor. E os diferentes actores deste palco que é a vida também sabem bem o seu papel. Depois das palavras trocadas fazem sempre a mesma cara de espanto e devolvem-me aquele olhar com que me classificam de ave rara.

“Não é contribuinte?.. Olha-me este cromo!… Como se uma merda dessas fosse possível…” - É o que eu julgo ouvir dentro das suas pobres cabecitas a pensar em surdina.

E a verdade é que é mesmo possível. Adquiri recentemente o prazer de ter dinheiro no bolso para o que me der na realíssima gana. Não ando por aí a pilhar carteiras nem a vender substâncias ilegais. Suo honestamente p’ra caramba todos os dias. Mas o fisco não verá nem um pingo desse suor.

Eu cá agora só quero é viver na economia paralela. Nos Panama Papers dos pobres e indefesos.

O estado português não me quis ajudar quando eu mais precisava deste. E só quis extorquir-me até não me deixar sem quaisquer meios de subsistência. A ignominiosa AT, Autoridade Tributária, bem como a ineficaz Segurança Social e o inócuo IEFP, Instituto do Emprego e Formação Profissional, pelas suas incompetências e falta de sentido da sua missão social fizeram com que o estado português me tenha perdido como cidadão válido. 

Talvez venha um dia a ser outra vez um cidadão íntegro nesta lusa sociedade. Mas até lá o estado português terá de pagar com língua de palmo as inúmeras sacanagens que a sua máquina desumanizada comigo cometeu.

Já não temos hoje os filhos de puta de outrora nas cadeiras do poder no nosso Portugal. Mas ainda vai demorar mais um pouco até isto ser de novo uma democracia e já não uma bancocracia. Até lá, ainda há uns imbecis duns cabrões por aí a quem eu terei porventura de foder os cornos. A bem da nação. Como serviço público.