terça-feira, 31 de janeiro de 2012

• A história repete-se

Ao fim de cerca de dez anos a esta parte, a história repete-se com a minha pessoa: I'm between jobs. Again.

Desta feita, tenho mesmo de tomar as opções de vida mais correctas. Da última vez, fui um cidadão bué rasca. Acomodei-me muito. Agora, senhores, é mister ir à luta. E vai ter de se dar um duro danado, que a conjuntura não é nada mole... 

Ainda tenho de fazer algo nesta presente existência que seja motivo para que dêem o meu nome a uma rua de Lisboa. Ou de um qualquer lugarejo, nem que seja de uma aldeia abandonada de casas de xisto no alto da serra da Lousã.

Há que fazer mais do que apenas tentar sobreviver á tona de água. Mais do que ser só uma folha seca caída, ao sabor do vento que sopra de todas as direcções.

Agora tenho de fazer acontecer. Por mim e pelos meus patrícios.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

• Quis saber quem sou

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Assim começa a letra de "E depois do Adeus", escrita por José Niza e cantada por Paulo de Carvalho, bem conhecida de todos.

Hoje estive só, sentado no areal do Monte Estoril, a ler um livro antes do pôr do sol. E enquanto via o astro-rei a despedir-se de mim e dos outros como eu que apreciam ver o céu a tingir-se de ouro antes de enegrecer, cuidei que ali estava uma alegoria desta actual fase da minha existência.

Estou a entregar os pontos. Admito que a curva descendente já chegou. Renascerei alguma vez mais? Ou antes disso, ainda haverá lugar para fazer alguma coisa de jeito nesta desbaratada vida minha? 

O escritor que escolhi para ler ao lusco-fusco, Haruki Murakami, induz-me sempre reflexões introspectivas. E as suas narrativas despertam-me bastas vezes a velha impressão do "eu já vivi isto assim desta maneira também".

Depois de ter lido o que Sumire, personagem do romance "Sputnik, meu amor", pensava sobre si mesma, também quis saber quem sou. O que faço aqui.

E julgo que já pouco tenho a fazer aqui. A janela de oportunidade que tinha esfumou-se. 

Assalta-me hoje o saudosismo que nos outros eu abomino. Mas que agora abraço. E consolo-me com este pensamento que minoriza minha conjuntural tristeza: ao menos tive a sorte de ter nascido na melhor década de todos os tempos da humanidade. A de sessenta.

A década do arranque da esperança num mundo melhor. Da genuina esperança. E do maior feito do homem enquanto terráqueo. Que tão cedo não será repetido nem ultrapassado. A da pegada de Armstrong num solo doutro planeta.

No dealbar dessa década, em 1969, nas cadeias de televisão de todos os países houve um sucesso de audiências que foi uma telenovela à laia dos reality shows de hoje. Vimos imagens de três homens no espaço confinado e exíguo da nave espacial Apollo 11, cuja qualidade sofrível mais me assemelhava à das ecografias de bébés no ventre de sua progenitora. E de uma sala enorme em Houston cheia de gajos, todos "caixa d'óculos" engravatadinhos, especados em frente a mesas com monitores de televisão. Ou radares. Não, espera, diziam-me então que aquilo não eram televisores, não. Eram… computadores. Ó pai, o que são computadores?… 

O que faço eu aqui, afinal, nesta época de gestores e economistas? Eu, que fui cursar engenharia, de um modo romãntico. Porque a NASA estava cheia desses tipos, os engenheiros. Para que raio presto eu como cidadão nos dias cinzentos que correm? Não hei-de eu sentir-me rasca…

A páginas tantas, mor, o Paulo de Carvalho canta estas linhas na canção que mais se lhe colou à pele:

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
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Para escutar a banda sonora original (ost) deste post, clicar aqui. Esta letra encaixa tão bem no que sinto neste dia 4 de janeiro que findou!…