domingo, 14 de outubro de 2012

• Tu te futas da minha gola!...

Hoje venho pôr por escrito uma impressão que me fica da análise do estado do mercado de trabalho em Portugal. Talvez particularmente na região da grande Lisboa, onde habito. Porque no resto do país não a imagino acontecer. 

Quem estiver a fazer uma pesquisa activa de postos de trabalho disponíveis hoje em dia, como eu tenho feito, vai provavelmente deparar-se com esta constatação: existe um grande número de ofertas de emprego publicadas para comunicadores de call-centers em línguas estrangeiras.

E os idiomas requeridos são os mais díspares! Não só os triviais Inglês e Francês. Mas também Árabe. Russo. Finlandês. Búlgaro. Sueco. Romeno. Dinamarquês. Mandarim. Húngaro. Grego. Holandês. Turco. Checo. Afrikaans. Ucraniano. Swahili. Polaco. Italiano. E é claro, o Castelhano dos nuestros hermanos calões e o Alemão dos boches cheios de guito. 

Um dia vi mesmo um anúncio com um título algo rísivel: "Austrian communicators to work in sunny Lisbon". Nem mais.

Parece que caminhamos para uma especialização particular - e talvez involuntária - da nossa mão-de-obra autóctone. A de estarmos a nos metamorfizar quase todos em operadores de call-centers ao serviço de grandes corporações do mercado global. Trabalhando em locais que serão a moderna versão da mítica torre de Babel.

Sabemos todos o fim que na Bíblia dos cristãos a torre de Babel teve… e temos o exemplo de um país inteiro, a Índia, que enveredou muito por esta especialização da sua exportação de serviços. Será que é bom termos o mesmo para nós?…

Bem… o que é um facto é que as "torres de Babel" florescem em novos edifícios de escritórios e parques empresariais de Lisboa e arredores, e não só. 

Já experimentei na pele e no espírito o que é ser-se mais uma unidade produtiva nesses antros, direi eu, de uma novel e sofisticada escravatura. Não já de trabalho braçal nos tempos modernos mas do intelectual. Que também provoca os seus desgastes, que não são de todo negligenciáveis na saúde humana. Mas isto não é nada de novo. Desde a perda do Paraíso terrestre por esses dois idiotas do Adão e da Eva que estamos condenados a ganhar a vida perdendo-a.

Na última empresa em que fui colaborador, um gigante da informática no Japão, que presta serviços de helpdesk técnico a algumas das maiores instituições financeiras e das chamadas commodities - como soe dizer-se em economês, esse estéril dialecto actual -, coexistiam só 17 das línguas acima mencionadas.

Tentei vencer o desafío que era trabalhar num ambiente cosmopolita e multicultural. Mas falhei por duas ocasiões. Em ambas era requisito essencial comunicar eficaz e fluentemente em Francês e Inglês, quer oral (chamadas telefónicas) ou escrito (emails, chats, aplicações CRM e de bases de dados).

E a minha conclusão foi esta: sou fluente nas duas línguas, de Molière e de Shakespeare, mas não o suficiente para o ritmo que a produtividade exigida impunha. Essa verdade era evidente sobretudo no Francês. Estava a transformar-me num emigrante no meu próprio país natal. A fazer aqui o trabalho de um francês a menos de metade do custo que este teria em França, para o mesmo cliente final.

Não. A coisa era boa mazé para os gauleses que aqui vivem - e nunca imaginei haver tantos assim como vi - ou para ex-emigrantes em terras dos Camembert*.  E como eu me deliciei a escutar estes últimos, a brincar com o seu perfeito bilinguismo… usando entre eles essa gíria - ou esse crioulo - que produz expressões lindas como a que dá título a este post.
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* Que é - segundo me constou num delicioso filme comédia, intitulado "Rien à déclarer" - como os belgas apelidam os queridos franceses que contam piadas dos primeiros, por tudo e por nada.

domingo, 7 de outubro de 2012

• O pano verde-rubro

Gentchi!!!...

Vamu relembrá e reavivá aquela manifestação de carinho que esse grande gaúcho, o Luís Felipe Scolari, nos incutiu na nossa alma colectiva.

Vamos todos pôr estandartes e bandeiras de Portugal viradas de cabeça para baixo em todas as portas, janelas ou varandas de nossos lares, imitando assim o inconsciente acto subversivo que o presidente Cavaco - esse símbolo da nação, para mal dos nossos pecados, a enxovalhar outro símbolo - teve anteontem, nas comemorações da implantação da nossa ainda jovem mas já vetusta República. 

Vamos todos mostrar o nosso não-apoio á equipa (governamental) de todos nós.  ;-)

É uma casa portuguesa, com certeza. É com certeza uma casa portuguesa. Hão-de dizer de nós os marcianos, com um sorriso amarelo mas ternurento… porque apesar de tudo, somos bué fofos e kiduxos com aqueles que nos governam. E que têm de dar contas à filha da mãe da Troika!... 

sábado, 6 de outubro de 2012

• Adriana Xavier

Cá vai um resumo do que aconteceu de deveras realmente importante - e quiçá original, que sempre é melhor ainda... - no passado mês de Setembro na vidinha política da nossa pobre e enxovalhada nação… isto na minha rasca perspectiva pessoal.

Adriana resolveu participar nas manifs. À sua maneira, demarcando-se com uma atitude individualista. Segundo alguns, que trataram mais tarde de a vergastar nas redes sociais, desolidarizando-se dos nobres objectivos de um suposto colectivo. Em boa verdade, uma amálgama de mentes quase dementemente reunidas em torno de uma vontade de gritar para não ficarem caladas.

E o que fez a nossa piquena? Tão-só afirmar que o importante é o Amor. E eu digo: "É verdade! A miúda tem razão…". É que já Gilbert Bécaud, esse kota gaulês, que gramou com o venerado Maio de 68, em anos idos nos lembrava isso.

Mas a inteligência da nossa praça pública está definitivamente cega. E "democraticamente", como convém, só admite os protestos em uníssono carregados de ódios. De lutas de classes. Corporativos. Militantes. Não tolera qualquer ruído que distraia o povo do essencial das suas reivindicações. Nem sob a forma da inocência de uma adolescente de coração puro.