terça-feira, 1 de setembro de 2015

• ZEUS - o filme

Manuel Teixeira Gomes foi um dos nossos primeiros presidentes da novel República Portuguesa, entre 1923 e 1925. Algarvio natural do barlavento, da mui nobre cidade de Portimão, onde dá o nome a uma praça e a uma casa-museu, sob a alçada da Câmara Municipal.

Foi porventura o mais romântico dos nossos vários presidentes. De sempre e não só da chamada primeira República.

São dele estas esclarecidas palavras:

"A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por 
exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório.
Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, 
as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade, 
porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, 
às minhas cadeiras e aos meus livros."

Renunciou ao seu cargo de Presidente da República Portuguesa e de imediato e voluntariamente auto-exila-se no norte de África, fixando-se em 1931 em Bougie, na Argélia, que ele considerava, curiosamente, como que "uma Sintra à beira-mar”.

Para o seu exílio ser concretizado o mais rápido possível, à falta de melhor opção, determinou-se a partir num modesto cargueiro* de bandeira holandesa e de seu nome “ZEUS”. Porque não havia outro transporte marítimo de navio de cruzeiro que lhe fosse satisfatória a espera pelo embarque.

Há quem o compare a Corto Maltese, personagem bem conhecido da banda desenhada, da autoria de Hugo Pratt… O que me desperta ainda mais a curiosidade sobre este singular antigo presidente português. Que foi sobretudo um homem de letras. E sempre um homem simples, com uma simpatia e charme natural.

Dito isto sobre o algarvio Manuel Teixeira Gomes, vou abster-me de fazer quaisquer comparações deste com outros. Que até seria deselegante da minha parte bater em ceguinhos e desprestigiante para este nosso vate-presidente. 

Só acrescentarei sobre o nosso homem que preferia as letras que escreveu, entre outras obras, “Novelas Eróticas” e “Cartas Sem Moral Nenhuma”. O que dirá algo sobre o seu carácter humanista.

Está neste momento ainda em fase de rodagem um filme** que pretende retratar os tempos conturbados da adolescente República Portuguesa que levaram ao desencanto de Manuel Teixeira Gomes pela coisa pública. Aqui em baixo podemos ver um exemplo do que será o cartaz deste filme, quando vier a estar em exibição em sala.

Filme este no qual eu participei no passado sábado, vestindo a pele dum oficial superior do exército português. Que fazia parte da audiência de uma sessão solene da Academia Militar onde Cunha Leal instigava com um seu discurso à sublevação contra o então vigente presidente Manuel Teixeira Gomes.

Eu fui, com muito orgulho, um dos oficiais do exército que discordavam dessa sublevação aventureirista, inspirada no pensamento político dos emergentes fascismos europeus de Benito Mussolini e Primo de Rivera.

Este acabou por não ser, afinal, o meu primeiro filme, como eu previ num post de outro dos meus blogs. Todavia, estou muito mais ansioso por ver o resultado final desta minha última sessão de filmagens, ou seja, o filme depois da sua montagem final. Embora saiba que fiz apenas um pequeníssimo papel, creio todavia que, modéstia á parte, com um "boneco" do caraças!…
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Nota: A quem aprouver, poderão ler uma biografia não-oficial - talvez a mais genuína… - de Manuel Teixeira Gomes clicando aqui, e a dita oficial na página oficial da Presidência da República Portuguesa, clicando aqui. A Wikipédia ainda tem uma outra versão diferente das duas primeiras.

* Já consultei e ouvi várias versões desta história. Uns dizem que era um paquete grego, outros que não, que era holandês… Fico-me pela versão do realizador deste filme, que me afiançou que se tratava dum cargueiro e não dum navio de passageiros. E do país das tulipas. O biógrafo da página oficial da Presidência da República Portuguesa talvez tenha sido crente que um simples cargueiro era “indigno” para a figura dum ex-Presidente…

** Produção em desenvolvimento da Happygénio, realizada por Paulo Filipe Monteiro.