quinta-feira, 26 de abril de 2012

• Reciclem-me!...

Burj Khalifa Tower, o edifício
mais alto do mundo, no Dubai
No passado sábado, nesta ânsia de arranjar um novo emprego, fui a um evento denominado Open Day, promovido pela companhia aérea dos Emiratos Árabes Unidos: a Emirates.

Esta transportadora aérea tem neste momento, segundo nos afiançam, cerca de... 200 - sim, duzentos! - novos aviões em fase de encomenda, da Airbus, sobretudo. E querem assegurar, naturalmente, os profissionais em número suficiente para as diversas tripulações de bordo destas aeronaves todas.

O evento que refiro aqui foi, portanto, uma sessão de recrutamento de RH (recursos humanos). Para a função de Cabin Crew, especificamente. Que a Emirates está a tratar de organizar em dezenas das cidades mais importantes deste globo terrestre. Para info sobre o calendário destes eventos, clicar aqui.

Foi a entrevista de emprego mais surreal e deslumbrante a que alguma vez compareci, em toda a minha vidinha!…

Hospedeiras da Emirates,
com o seu peculiar uniforme
Imaginemos esse estereotipo da personalização da beleza feminina que é a hospedeira de bordo, na sua versão mais optimizada: alta, magra, bem trajada, bem cuidada, cabelo apanhado em rabo de cavalo atrás, porte irrepreensível, na faixa etária dos seus vinte anos, etc. Multipliquemos um tal exemplar ideal por trezentos. Temos assim um verdadeiro concurso de Miss Universo.

Eis o habitat de sonho em que me vi inserido, durante quase todo o santo dia desse sábado!...

Além de senhoras, também se encontravam lá um quase igual número de varões pré-trintões. Todos dum modo geral bem ataviados, as well. Embora não tão bonitos quanto as damas, vá, conceda-se…

A Emirates suscita assim um enorme interesse junto das pessoas que já trabalham nesta área. A grande maioria das pessoas que ali estavam davam a impressão de já serem de outras companhias aéreas, como a TAP Air Portugal, sobretudo.

É sem sombra de dúvida uma grande companhia aérea, a Emirates. Que pode oferecer condições de trabalho e de remuneração bem atractivas, ao nível do país que representa, os UAE, na sigla oficial que o designa em inglês: United Arab Emirates. É um empregador que nos promete todo um package salarial e de fringe benefits feliz.

Panorâmica nocturna do Dubai,
do alto da Burj Khalifa Tower
Mas a Emirates também pode dar-se por contente de ter a felicidade de assim conseguir cativar a nata da juventude dos países do chamado mundo ocidental. Até porque estes se encontram mergulhados num período de crise bem feia, devido à especulação desenfreada grassante nos mercados de capitais. Que transforma as economias destes países em algo tão instável e imprevísivel como jogos de azar em casinos.

Talvez a incerteza também atinja os UAE, mais tarde ou mais cedo. Mas enquanto isso não acontece, aquilo parece ser a sociedade ideal para viver lá. Uma rica vida assegurada para quem para lá queira emigrar, segurança pública garantida, bem estar social como não há em outra parte do mundo, atracções mil para os tempos livres, uma população urbana cosmopolita (cerca de cem nacionalidades a conviver harmoniosamente), etc.

Paragem de autocarro no Dubai,
equipada com ar condicionado
No evento foi dada informação sobre a cidade em que teríamos de passar a residir, caso fossemos seleccionados. A cidade símbolo do séc XXI, Dubai. E um dos factos referidos que mais me impressionou - entre muitos, apesar de eu ser uma pessoa já bem conhecedora dessa realidade extravagante que são os UAE - foi este: as paragens de autocarro no Dubai, devido ao clima quente, são uns confortáveis cubículos de paredes de vidro, com um design bem moderno e atraente, equipado com portas automáticas e com… ar condicionado.

O lema da Emirates é "Hello Tomorrow".  Apetece mesmo reciclar-me e renascer como um cidadão dubaiense, palavra!…

terça-feira, 17 de abril de 2012

• I need badly to get a job!

"Para que é que todos nós viémos ao mundo?" - perguntou à turma toda o professor de Religião e Moral, essa extinta disciplina escolar do currículo do ensino secundário do Portugal no início dos anos setenta do século passado.

E o desafio filosófico foi sendo respondido pelos alunos, todos mal acabados de ser instituidos como teenagers, de várias formas. Para sermos felizes. Para construirmos algo que fique para além da nossa partida. Para vivermos bem. Para amarmos a Deus. E etc…

"Não." - contestou o mestre, rematando a questão. "Viémos ao mundo para servir. Uns aos outros.".

Bom… embora rapidamente tenha concordado com o dito conceito, também depressa o meu egoísmo se desencantou com a ideia de ter de fazer algo para os outros, sempre até ao fim dos nossos dias. Mas é um facto. Viémos ao mundo para servir.

Até o mais poderoso dos homens, seja o presidente dos Estados Unidos ou o Papa ou alguma obscura figura que mande na economia global, se esta personagem existir, afinal… até estes dedicam a sua vida inteira a servir-nos a todos nós, os outros, seus subordinados ou crentes seguidores.

Pronto, não há nada a fazer. É preciso servir os outros. E na idade adulta isso é sobretudo conseguido com o nosso precioso tempo que empregamos a trabalhar. Entregamos esse tempo a quem nos paga um salário. Que nos permite depois viver desse recurso. Salvo seja, porque nem sempre isso é suficiente para sobreviver.

Eu tenho, pois, de arranjar como justificar a minha existência. Como? Servindo. Trabalhando. E ganhando dinheiro. Para poder sobreviver. E assim poder continuar servindo. Os nossos avós Adão e Eva foram expulsos do Paraíso; portanto, lá terá de ser...

Bom… A mim não me querem como voluntário na ilha do Corvo. Que é como que um grande navio parado e decrépito no meio do oceano. Na boa. Tásse bem. Mas então… 

Vamos tentar arranjar emprego num navio em constante deslocação por este mundo todo. Num daqueles grandes paquetes de cruzeiro. A servir àqueles que já gastaram uma grande parte da sua vida a servir outros. Os míticos reformados da Flórida, sempre estereotipados com suas bermudas caqui e garridas camisas havaianas. Um dia troco de função com eles. Talvez…

Ou é isto os altos voos de que falava no post anterior a este… ou então ser assistente de bordo numa companhia aérea. A servir uns abastados sheiks árabes. Pelo menos é o que o destino me está a botar à frente na presente comjuntura.

Vamos ver o que sucede. Tenho de fuçar bué to get a job. Aqui apenas a escrever estas linhas que ninguém lê é que não estou a servir para nada.

Tenho de me tornar num cidadão como os outros: útil. Não só rasca.

terça-feira, 10 de abril de 2012

• Falsa partida

Na ânsia de me sentir mais útil à sociedade - mais do que sendo apenas um bobo duma inexistente corte, que presume ser engraçado no que escreve nuns blogs que poucos cibernautas lêem, ou ninguém mesmo - resolvi tomar a iniciativa de me oferecer como voluntário para o que quer que fosse numa reduzida parte desta Terra sob soberania nacional, mas muito esquecida. 

Tal como eu, que ando muito desprezado pela humanidade e pelo mercado de trabalho. Deve ter sido por isso que tive a ideia peregrina e romântica de me pôr ao serviço duma comunidade tão pequenina quanto eu próprio me sinto.

O que eu pretendia com isto? Quiçá umas fériazitas de 2 a 3 meses, com alojamento e comidinha garantidas por algum bom criador de vaquinhas frísias e produtor de queijo do Corvo. Tentando ajudar o homem nos cuidados com os seus animais e pastos. Por exemplo. Ou fazer algum serviço burocrático para o município local ou empresa de transportes. Ou qualquer tipo de dinamização socio-cultural.

Não deu. Contactei a Câmara Municipal do Corvo, como mencionei num outro blog, cujo link está no texto acima, no primeiro parágrafo. Respomderam-me com amabilidade. Ao menos deram-me essa atenção. Mas que não precisam de voluntários. E julgaram que as minhas intenções eram arranjar um emprego na função pública na região autónoma dos Açores…

Dá-me vontade de proclamar… Hoje em dia postos de trabalho são bens tão escassos que não me atrevo a disputá-los com os demais, se a minha subsistência neste planeta puder ser assegurada com uma prestação de serviços a troco de cama, mesa e roupa lavada, para quem me adoptar como criança grande.

Já não vou perturbar a pacatez da ilha do Corvo. Que esta fique bem tranquila, lá no meio do Atlântico, como sempre. Tanto melhor para os corvinos e os cetáceos seus vizinhos… e talvez para mim também.

Porventura mais altos voos me esperam.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

• Reencarnação

A Páscoa é um período em que os cristãos decidem que é mister falar de ressurreição. E, claro está, de quem ressuscitou: Cristo, himself.

Como sou um cidadão às avessas - ateu militante, inclusivé; embora apreciador da personagem histórica de Jesus -, venho hoje aqui lembrar desse fenómeno que é a teoria da reencarnação. E o exemplo que me sobreveio para ilustrar isto, caramba!… É nem mais nem menos do que o do… Anti-Cristo!

Oh, que porra! Eu até gostava tanto destes bichanos, que são tão fofos, genericamente falando… Rejubilai e cantai todos comigo, em coro agora: 

"A-tirei o pau ao gato-tu-tu…" *
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* E não é que para mim passou a fazer um razoável sentido esta absurda canção infantil, cuja letra sempre me intrigou desde petiz?…

Para escutar a banda sonora original (OST) deste post, clicar aqui.

domingo, 1 de abril de 2012

• É na Terra Não é na Lua - o filme

Cartaz do filme
"É na Terra Não é na Lua"
Fui assistir a este interessantíssimo documentário na sua noite de estreia, no passado 29 de Março, no Cinema City Alvalade, nesta desgraçada capital Lisboa.

Em boa hora o fiz!… Porque esteve para me dar a louca de ir viver por uns tempos para estas paragens açorianas. Até cheguei a contactar a respectiva Câmara Municipal do Corvo, oferecendo-me como voluntário para qualquer tipo de trabalho ou missão comunitária a exercer naquela ilha. Que pancada a minha, senhores...

Se bem que rasca até à medula, eu sou mais um cidadão urbano do que rural. Embora às vezes me fuja a tendência para o contrário, nem sei explicar porquê... O que sucede é que o Corvo já muito pouco terá da ruralidade de antanho, a avaliar pelo que absorvi.

Chocaram-me alguns fenómenos retratados neste filme. Como por exemplo: uma ilha com ainda não poucas vaquinhas produtoras de bom leite, com idílicas pastagens a ajudar, importa… paletes de pacotes tetra-brik de leite dos lacticínios Nova Açores, às carradas!!!

Existe na ilha uma queijaria que parece tender para abandonar a sua actividade. E esta seria a principal entidade a absorver o leite mugido localmente. E nas imegens recolhidas, esse leitinho parece ser-nos mostrado que vai - literalmente - para os porcos.

É que já nem uma pequena produtora de queijo artesanal demonstra ter vontade de vender os queijinhos que diz manufacturar com amor e carinho. E só a vemos agora a marcar presença na missa quotidiana das 16 horas, para rezar seus terços mecanicamente.

E depois, os corvinos até podiam para mim ser todos pessoas simples. Ou até simplórias, que não vinha mal ao mundo nenhum por isso e até era uma coisa genuína. Mas não…

Tinham de acolher no seio da sua comunidade alguns idiotas também, como no resto do mundo dito civilizado. E isso é que me dá uma destas revoltas aos fígados...

Um gajo que levou p'rá ilha a mania do tuning. E circula feito chunga com um Peugeot 207 diesel pelas ruas da pequena vila sempre com o som a bombar, mal o veículo arranca. 

Outro tipo, senão o mesmo, achou que era premente trazer para aquele fim de mundo um Audi TT descapotável, havendo apenas praticamente uma única estrada para curtir o prazer de conduzir!…

Mas o campeão do pouco juízo foi um político local do PPM que tinha como principal cavalo de batalha, insurgindo-se contra os governos da república portuguesa e o regional dos Açores, pelo facto dos serviços locais da administração fiscal funcionarem de forma sazonal. Apenas alguns dias por mês. Impedindo os corvinos de cumprirem os seus deveres atempadamente com o fisco. Oh, c'um caraças!!!…

Quem dera que a repartição de finanças cá da zona funcionasse assim! C'a g'anda tótó!… Ou eu não estou a ver bem a cena, ou então o fisco nos Açores não chateia apenas o povo contribuinte para pagar. Também será como que umas grandes tetas para todos mamarem.

Mas de resto, os corvinos mais antigos são uns queridos. A D. Inês Inêz, então, é a melhor de todos. E continuo a julgar que vale a pena visitar a ilha por um dia ou dois.

Só não vale a pena é fugir para lá, acreditando que esqueceremos os nossos problemas. Sobretudo os do foro sentimental.
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Uma palavra final para os autores, que deixei também registada no guestbook do site oficial do filme:

Parabéns, Gonçalo Tocha e Dídio Pestana. O vosso documentário é de um humanismo extraordinário. E vocês foram dois excelentes voyeurs dessa realidade singular que é a vida no Corvo. Do belo e do grotesco. 

Obrigado pelo que foram buscar para nos dar a todos nós, corvinos e não-corvinos. 
Giuseppe