sexta-feira, 21 de agosto de 2015
• A voz dos muros - XIV
Ontem, num pequeno mas bravo país* europeu celebrou-se o dia da chamada “Singing Revolution”.
Eu que sempre pensei que a revolução mais hippie que alguma vez houve neste mundo dos humanos era a do meu país…
Desperto agora, devido a uma recente paixão que me arrebata o sono, que outro povo valente há que também teve a sua revolução não-violenta e extraordinária.
Os filhos das revoluções também se apaixonam. Não sujam os muros apenas com duras palavras de ordem. Contra aquelas forças que nos dominam. Não.
Também têm corações que pulsam. Também têm olhos para a beleza deste mundo. Que fica mais belo com a existência nele de certos seres. E aqui está a prova disso, com a foto acima a mostrá-lo.
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* Que se vai tornar também meu, um dia, quiçá…
sábado, 15 de agosto de 2015
• Desmascarar é preciso
O autor deste blog não é um militante do Bloco de Esquerda. Não é mas até poderia bem ser. É, antes do mais e sobretudo, simplesmente mais uma voz pela verdade e contra a hipocrisia.
Ok, eu sei bem, isto pode soar a lugar comum… Mas na política à portuguesa esta é uma atitude que é forçoso manter sempre desperta. E na guerra dos cartazes, que está a começar por estes tempos, os do BE - de que vemos um exemplo acima - foram até agora os mais inteligentes, francos e honestos.
E tal como as pessoas reais que dão o seu nome nestes cartazes, eu também gostava de dar o meu testemunho de como tenho vindo a atravessar estes anos de chumbo.
De como tive o apoio social que me seria devido, pelos anos em que andei a contribuir para este, a ser cortado "à cão”! Numa altura em que nos media se relatava esse “esforço” estatal a incidir sobre um grande número de outros cidadãos, que como eu estavam nessa situação económica e profissional precárias. A de depender de um subsídio de desemprego.
Houve, creio eu, uma intenção deliberada da parte deste (infelizmente) ainda actual governo português de “manter os cofres sempre cheios”, à custa do fechar da torneira a esses madraços desses malditos desempregados, que só lixam as estatísticas!…
Também gostaria de relatar como me tenho vindo a tornar um pária nesta sociedade lusa, à custa daquilo a que passei a chamar de bullying fiscal. E de como já pensei justamente em pedir estatuto de refugiado económico - não apenas político - noutro país qualquer, no qual os cidadãos e as suas vidas - e até as obras feitas em prol de um bem-comum e não de um lucro próprio ou alheio - tenham mais valor do que os números macro-económicos
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
• A vida como uma farsa - parte III
Aviso à navegação: a nova telenovela da SIC, “Coração d’Ouro”, creio que a estrear em Setembro próximo, é imperdível!!!…
Já tive uma primeira participação nesta história na sexta-feira da semana passada, que constitui mesmo uma efeméride para mim: a minha décima telenovela. E fiz referência a esta noutro dos meus blogs, neste post que pode ser lido clicando aqui.
Tenho sido até agora apenas um bibelot móvel, um adereço ambulante e, de vez em quando, falante. Um figurante, ou na terminologia anglo-saxónica, an extra or background cast member. Mas embora limitado a apenas isto, divirto-me bués nos locais de filmagens! Ainda. Ao invés do que parece acontecer a outros colegas meus mais veteranos nestas andanças.
Como ia dizendo, na sexta-feira passada fui um paciente ou utente da que vai ser a famosa Invicta Clínica nesta história. Enquanto dois protagonistas, o João Reis - que aqui vai com certeza ter o papel da sua vida em telenovela - e a Ana Padrão se cruzam comigo, eu estou a dar-lhes o maior desprezo, salvo seja, agarrado ao meu telefone móvel, a enviar na ficção sms’s reais a um ente querido meu na vida real, também.
Até aqui, nada de extraordinário. Ontem, uma solarenga quarta-feira deste querido mês de Agosto, segunda participação em “Coração d’Ouro”. E as coisas aqueceram, e bastante!…
Em todas as telenovelas portuguesas produzidas até hoje, não deve ter havido qualquer encenação que se aproxime em rigor e audácia àquela em que ontem estive envolvido!..
Passo a descrever… Local das filmagens, primeiro impacto altamente positivo: o Palácio do Correio-Mor, em Loures. Um mítico local, pessoalmente falando, de que conheço bem a história, os exteriores e a paisagem envolvente. Mas onde nunca tinha entrado.
Trama: imagine-se uma festa decadente, recheada de convidados, todos membros de uma suposta aristocracia e haute bourgeoisie. Homens trajando todos de fato preto e alguns, entre os quais me encontrei, com uma capa preta por cima, estilo a do Sandeman. Mulheres, esposas destes, todas com vestidos de cerimónia. Em menor número do que os homens. Logo, alguns homens tinham chegado em solitário a esta festa. Mias uma vez o meu caso.
Todos, homens e mulheres, na casa dos cinquenta para cima. Malta da pesada, portanto. Algumas barriguinhas proeminentes. Todos os convidados, de ambos os sexos, usavam máscaras a tapar o rosto, sobretudo os olhos, umas venezianas outras mais minimalistas. A minha era como a de Zorro, negra e pequena.
E porquê toda esta palhaçada, perguntarão… Já se esqueceram que eu disse de início que isto era uma festa “decadente”… Bom!…
A coisa não era bem uma orgia romana. Logo, se bem que o food & beverage não fosse à fartazana, não era nada de se deitar fora. E a mesa no centro do salão era tudo menos recatada…
Aquilo também não era bem o ambiente de Roissy, do romance “Histoire d’O”, de Pauline Réage, obra literária das que mais me influenciou a adolescência. Mas a criadagem, senhores…
Uma boa meia dúzia ou mais de meninos nos seus vinte aninhos, todos com calças pretas de smoking, em tronco nu com apenas um lacinho preto ao pescoço, e com corpazins de body builders bem bronzeados. Uns verdadeiros armários para o completo deleite das damas kotas refasteladas nos sofás.
Igual quantidade de criadas meninas, talvez ainda mais jovens do que os meninos, todas usando apenas sugestivas peças de lingerie, como corpetes vintage rubro-negros e pump high heels. Umas quantas voluptuosas zuquinhas, uma ou outra gazela cor de ébano, mais umas elegantérrimas tuguinhas e umas três ou quatro russian dolls. Um perfeito bouquet.
Descritos todos os personagens intervenientes, o estilo do regabofe que ali se produziu com afinco e abnegação ficará agora ao critério da imaginação do meu caro leitor…
Isto foi o que se filmou nos interiores do palácio durante a tarde, que é suposto ser uma festa nocturna. Interiores esses de que se pode ter uma leve ideia olhando a foto aqui ao lado. Que não é em rigor o salão que se verá na pantalha e no episódio em que esta festarola irá para o ar. Mas que dá para dar uma ideia do que é o fausto dentro daquelas paredes.
Depois do lusco-fusco filmou-se a chegada em grande estilo de todos os convidados, a exibir uma bela duma frota automóvel adentrando os portões do palácio. Uma coisinha em grande estilo, à luz daqueles grandes candelabros de pé em ferro fundido com dezenas de velas. E aquele povinho todo a sair dos seus meios de transporte, todos grandes máquinas germânicas. O João Reis, no seu Porsche 911 cabriolet preto…
Pormenor curioso, entre o fim da tarde e as filmagens pela noite dentro, embora estivesse com calor não consegui retirar a minha indumentária. Aquela capa colou-se-me à alma. Caminhei todo deleitado pelas alas daquele palácio, interiores e exteriores, com a capa a esvoaçar com a ligeira brisa que naquele local sempre sopra.
E quando me sentava em repouso, naqueles inevitáveis momentos de espera entre takes, fazia com que a capa negra me envolvesse, como se eu fora um morcego. E colocava o capuz a cobrir a minha cabeça. E assim me quedava feliz, em meditação sobre a minha existência.
Existência essa que eu em amena cavaqueira no facebook esta matina com o mesmo ente querido atrás mencionado considerei de pobre. Não me assiste aquilo a que entre nós se convencionou apelidar de “energia do dinheiro”… E no entanto, na ficção levo algumas vezes, e não poucas, uma vida à grande e à francesa!..
Fui logo repreendido após este grito surdo acerca da minha pobreza!.. Se eu pudesse ao menos escutar o que eu estava a dizer, fizeram-me notar!… Então eu tenho a chance de viver experiências que o comum dos mortais invejaria e não pode viver… E ainda me lastimo que sou… um pobretanas???…
Que mal agradecido, senhores, que venho sendo com meu destino. Se a vida real me é funesta, ao menos tenho a farsa da ficcional para me ir alegrando uma beka. ;-)
Haja mais coisas destas que me permitam a existência sustentável, ou seja, as contas pagas. Que quanto ao resto nem preciso assim tanto do vil metal, graças aos deuses…
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