terça-feira, 10 de janeiro de 2017
• Obrigado
Ontem fui ao Mosteiro dos Jerónimos ver o seu corpo em repouso. Já não entrava naquele claustro desde que era um teenager em visita de estudo. E ali ontem percebi que tenho de permitir mais amiúde que esses viajantes que até ali venho trazendo entrem e se sintam tão embasbacados como eu fiquei ao rever o lugar depois de tantos anos.
Com as suas cerimónias fúnebres antes da ida para o cemitério a terem lugar nos Jerónimos, ele deu-me, para além de outras mais essenciais, uma derradeira oferta. Que foi a de poder entrar naquele monumento tão visitado por forasteiros, sem pagar o balúrdio que a estes últimos - e aos nativos desta Olissipo, também… - exigimos.
No velório no antigo refeitório do mosteiro ele lá estava naquela pose dos grandes entre todos nós. Levou-me a pensar no momento que todos os povos têm o seu Mao Zedong. Ou o seu Kim Il-Sung. Ou o seu Enver Hoxha. O seu querido líder, enfim.
Só que ele não era dessa linhagem de chefes de estado. Era mais um Olof Palme. Ou um Nelson Mandela. Um bacano. Um gajo même fixe.
A ele devo o poder estar a escrever estas linhas sem recear o que a ele fizeram. Isto é, engaiolaram-no.
A mim isso só virá um dia a acontecer se isto ainda der um grande virote para trás. Mas eu acredito que vidas como a que ele viveu e nos mostrou como viver não permitirá que tal suceda jamais, doravante. É esse o seu grande legado para todos nós.
Obrigado, Mário. Descansa em paz agora, que creio que nós todos aprendemos a tua lição.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
• O tal de PERES
A A.T., a nossa querida Autoridade Tributária tem desde Novembro último um chamado “Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado”. Como isto é um nome comprido, resolveu-se abreviar a coisa numa singela sigla, que passou a designar-se… PERES.
Que amorosos e atenciosos que estes senhores parecem sempre querer ser comigo, caramba!…
Bom, mas isto até pode ser premonitório de alguma coisa. Até pode ser um sinal de que devo estar num bom caminho, na solitária e surda-muda luta que venho assumindo contra estes cabrões.
“Em Portugal tem havido, nos últimos anos, devido às políticas de austeridade, um grande crescimento de dívidas ao Fisco e à Segurança Social”, afirmou o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Isto será verdade mas não é tudo.
Era preciso dizer que este tal Plano PERES não deveria ser assim tão “especial” mas antes a regra comum.
Pagar os juros de mora, as coimas e demais custos administrativos e o mais que os filhos da mãe da A.T. inventam e que ampliam qualquer pequena dívida fiscal para quantias astronómicas é que deveria ser considerado anormal e inaceitável. É que nem os maiores agiotas deste mundo teriam a vergonha de cobrar tais valores aos seus devedores!…
Já passei inclusivé ultimamente a usar na lapela do meu blazer azul escuro algo que me remete para outras paragens. A primeira de todas as bandeiras que esta lusa nação já conheceu. Semelhante à daquele país setentrional pelo qual me perdi com alguma paixão.
Nunca me senti imbuído do enraizado espírito tuga, de tão torpe que este é. Sempre me dei melhor com forasteiros do que com os meus toscos conterrâneos. Também há destes últimos de valor, é certo… Mas onde andam eles?…
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
• O país onde nasci
Creio que não invejo os extraterrestres que nasceram em mundos mais evoluídos do que a nossa Terra. Ainda não chego a tanto. Mas a uma escala menor, por vezes me questiono porque raio fui logo nascer neste atarracado país.
Já aqui neste blog, num dia relativamente recente, me declarei um Desenraizado. Estou cansado de aqui quase sempre ter andado a gastar o tempo da minha presente existência. E sobretudo desta minha Olissippo.
Entretanto, a crescente tristeza devida ao meu viver por cá, pela capital deste Portugalito, tem de conviver com a desmedida alegria dos que a vêm visitando nestes últimos tempos… E eu tenho logo por missão actual de lhes potenciar essa alegria de aqui estar.
Sente-se de facto que os turistas que nos visitam em Lisboa transpiram uma felicidade inusitada por aqui desembarcarem.
Ele é a luz de Lisboa, que também maravilhou Arpad Szenes, mal aqui pôs os pés.
Ele é a gastronomia, que aqui ainda permanece genuína, autêntica e não industrializada. Ou ao menos não tanto como nos países europeus ditos mais evoluídos que o nosso.
Ele é um património histórico que ainda consegue ser bem rico e cativante, porventura um pouco mais que em outras paragens, também muito demandadas pelas mesmas hordas de turistas na idade da reforma que aqui desaguam.
Ele é as nossas gentes, que sabem quiçá sorrir mais do que nórdicos, teutões, gauleses e até do que os nossos hermanos ibéricos. E genuinamente.
Ainda por cima, somos ajudados pelo facto de sermos cada vez mais cosmopolitas. De termos em Lisboa comunidades de todas as partes deste mundo, que aqui tentam subsistir, tal como os locais, à custa desta actual maré alta do turismo português.
Lugares encantadores, como esta pequena vila onde os rios Tejo e Zêzere se agrupam, que eu ando por aí a mostrar a tanto forasteiro, eu queria era mostrar a ela um dia…
Talvez depois de ver com os olhos dela o que já conheço como a palma da minha mão não me sentisse tão desenraizado.
Além disso, há uma dívida de gratidão que sinto ter com ela. Porque ela muito generosa e carinhosamente levou-me pela mão a ver todas as principais atracções turísticas de Helsinki e Tallinn. Um dia, graças a tal passagem de testemunho, quero ser um guia nestas duas urbes. Com a mesma qualidade com que o sou na minha Ulisseia.
domingo, 30 de outubro de 2016
• Mais uma!...
Para além de já ter passado diversas vezes por vicissitudes como a de recorrer ao suposto apoio de serviços sociais do estado em situação de algum desespero - como neste desemprego crónico que se me colou à existência presente neste país - agora vou fazer um pedido de insolvência pessoal.
A ver no que isto dá. Continuo a ser aquele velho case study.
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
• Migrações
Dizem os nossos amigos antropólogos que a humanidade nasceu no continente africano...
É lá ao menos, no vale de Awash, na região de Afar, Etiópia, que se encontrou resquícios do esqueleto de um hominídeo da espécie Australopithecus afarensis, tido como o mais antigo que se conhece até aos dias de hoje. A famosa Lucy, assim “baptizada” pelos Beatles.
A Lucy e a sua “turma” serão, portanto, os antepassados comuns de todos nós, humanos que habitamos em todos os cantos deste planeta.
Terá sido, então, daquela região de Afar na Etiópia que os primeiros seres inteligentes emigraram ao longo de inúmeros anos para longe dali. Inicialmente - a geografia o impõe e a história o terá confirmado -, através da península do Sinai para o Médio Oriente e em seguida para a Europa. Mais tarde para o Oriente longínquo da Ásia de leste e mais tarde ainda para as Américas, através do estreito de Bering. Isto é ponto assente.
O que levou aqueles pobres australopitecos a querer zarpar um belo dia da sua região natal?… A necessidade de sobrevivência, supõe-se. O mesmo impulso que empurra os actuais migrantes africanos a sair do seu exangue continente negro e a tentar cruzar desta vez o Mar Mediterrâneo em barcos de borracha mais que superlotados. A História repete-se, afinal de contas.
Nós, os descendentes da Lucy que vivemos aqui na Europa há já largos séculos não gostamos no entanto deste impulso dos nossos primos afastados…
“Ah, já não cabem mais aqui!…”, dizemos a eles.
Pois!… No princípio não havia aqui ninguém na Europa. Cabiam cá todos nessa altura. Quem veio para cá ocupou a terra e desenvolveu civilizações. Melhor e mais rapidamente do que os que deixámos para trás em África. Até aqui, tudo bem!…
Já não me parece bem é estarmos melhor de vida agora e não querermos partilhar essas melhorias com aqueles de quem os nossos pais e avós nasceram.
E não fomos nós, os europeus vivinhos da Silva, que criámos essas melhorias. Não. Nascemos todos já a usufruirmos destas. Podíamos bem não ser sacanas nem meter nojo e deixar que outros gozem também da nossa supostamente boa vidinha. E que de alguma forma todos juntos fizéssemos esta vidinha aqui poder ser ainda melhor do que já é. Numa win-win situation.
Mas para tal é preciso ter tomates!... Para querer abarcar uma tal façanha ilustre. E tomates é o que nós, que fomos ficando branquelas, não soubemos ir conservando no nosso ADN. Não tanto como os escurinhos que querem invadir o nosso espaço vital e a nossa zona de conforto. Ameaçando-a.
Francamente!… Dizemo-nos tanta vez tão mais civilizados do que eles. Mas essa nossa civilização ocidental, a par do bem-estar que nos trouxe, também desenvolveu esse tumor - que tanto quanto eu presumo, ainda pode ser considerado benigno, logo em tempo de ser combatido - que é a economia liberal*. Que, se não nos cuidamos, ainda vai dar cabo dessa civilização tão arduamente edificada. E da própria humanidade em si.
Vamos lá mazé investir mais nos humanos. Nos que já cá vivem e nos que querem vir para aqui viver. Em vez de investirmos tanto em acções, dívidas públicas, activos tóxicos (ou mesmo não tóxicos), com dinheiro que artificialmente criamos em bancos de dados electrónicos.
Enfim, lá estou eu uma vez mais a dar uma de louco demagogo…
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* Liberal ou neo-liberal, ou seja lá como for que se queira baptizar essa porra!…
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
• Só me saem é duques!…
Isto diz amiúde o populacho quando se está enrascado e não nos aparece nada de jeito para nos ajudar a sair do buraco.
Eu, tal como muitos de nós, cidadãos, precisamos de ter alguma actividade que nos permita com a sua respectiva remuneração ir sobrevivendo, satisfazendo ao menos as necessidades básicas de cada um, definidas na famosa pirâmide de Maslow. É assim que o mundo funciona, desde a expulsão do paraíso terrestre dos nossos ricos paizinhos Adão e Eva. E só eu sei o quanto preciso de ter alguma coisa a que se possa chamar de salário para continuar a manter-me à tona neste mundo cão...
Mas, por causa do meu maldito karma, as quase únicas oportunidades - e curiosamente ou talvez não, em grande número, diga-se… - que me vão aparecendo de um novo emprego são para trabalhar para a famosa... Uber. Nesta Lisboa, onde vou tendo que me resignar a viver os meus dias neste planeta.
Bom!… Em relação a esta coisa da Uber, quero dizer aqui que tenho mixed feelings.
Venho com agrado que negócios como os da Uber ou da Airbnb apareçam. Para inovar e provocar umas boas sacudidelas em mercados demasiado cristalizados e parados no tempo. Para criar alguma liberalização em actividades demasiado regulamentadas. Para romper com status quos demasiado instalados.
E também, já agora, para pagarmos um pouco menos por certos serviços, que sempre nos pareceram caros ou serem encarecidos por falta de uma verdadeira e liberalizada concorrência.
E também, já agora, para pagarmos um pouco menos por certos serviços, que sempre nos pareceram caros ou serem encarecidos por falta de uma verdadeira e liberalizada concorrência.
Só que há sempre dois lados da mesma moeda. E este alegado espírito liberal* da Uber acarreta também em si - tenho esta percepção, quiçá não totalmente exacta - que a Uber pague uma beka mal aos seus colaboradores directos ou indirectos. Ainda, desde sempre e provavelmente também para sempre.
Mesmo assim sendo, não me importaria lá muito de acabar a trabalhar para a Uber. Afinal, preciso garantir, como todos nós de resto, aquilo com que se compram os melões.
Mas julgo que só me sentirei minimamente cativado para ser um driver na classe Uber Green, a tempo inteiro, em qualquer área geográfica. Um quotidiano gerido a conduzir um Nissan Leaf, veículo 100% eléctrico, convenhamos, é deveras atraente para a minha enraizada consciência ecolo.
Ou então, qualquer outra classe Uber**, a tempo parcial mas apenas na grande Lisboa. Mas não sei deveras se a Uber é a solução para mim. Ou para o comum dos mortais.
Conduzir é uma actividade que eu faria todos os dias até a título gratuito, se não tivesse de me preocupar tanto com a sobrevivência terrena. É esta a minha principal motivação para trabalhar para uma moderna instituição como a Uber. Simples assim.
Mas há um muito aborrecido contra: é prática usual entre todos os parceiros Uber exigir aos drivers que contratam que cumpram turnos de 12 horas diárias, e sobretudo em horários nocturnos. O que acho de uma grande violência, para além de ser naturalmente prejudicial para um importante factor: a segurança da condução.
Nem compreendo como algo assim possa ser legal!… E se a classe corporativa das companhias de táxis - que se rebelam tanto contra a aparição da Uber no seu mercado, que julgaram seria sempre uma coutada privativa sua - não levanta esta lebre… Deve ser porque fazem os seus condutores terem de cumprir com as mesmas 12 horas por dia. Hipocrisia da pura, é o que isto é!…
Quanto a mim, não quero entregar quase todas as horas dos meus dias a um tal ofício, tão desgastante em termos de tempo envolvido. E além disso, quero manter uma reserva de horas que eu possa dedicar a outras actividades que sejam mais bem remuneradas.
Bom, evidentemente, isto é aplicado à nossa comezinha realidade local… Já se tivesse a chance de ser um Uber driver nessa urbe de sonho ou de pesadelo que é o Dubai, a guiar todos os dias um McLaren… Hum, hum… Pensaria ao menos duas ou três vezes no que disse atrás.
Bom, evidentemente, isto é aplicado à nossa comezinha realidade local… Já se tivesse a chance de ser um Uber driver nessa urbe de sonho ou de pesadelo que é o Dubai, a guiar todos os dias um McLaren… Hum, hum… Pensaria ao menos duas ou três vezes no que disse atrás.
Voltando a pôr o pé no chão, fincado na calçada portuguesa… Para além daqui - e em qualquer outro lado, com certeza - a Uber pagar mal e exigir o litro dos seus drivers, que têm de ser rentabilizados como máquinas, tal como rentabilizado tem de ser o investimento na aquisição das viaturas a colocar ao seu serviço…
Por outro lado ainda, constato que parceiros Uber estão cada vez mais a surgir em grande número hoje em dia, aqui em Lisboa.
Nascem do chão como cogumelos!... Hoje qualquer mamborreiro quer criar a sua micro-empresa parceira da Uber. O que não pode deixar de me fazer questionar se esta actividade não estará a atingir um ponto de saturação em que deixará de ser proveitosa para todos estes parceiros. Ou seja, que este negócio poderá vir a não ser sustentável.
É o que eu digo… Só me saem é duques!…
Se ao menos tal espírito liberal que a Uber traz também permitisse que os seus drivers funcionassem na chamada economia paralela… Ou seja, que não tivessem de passar recibos aos seus empregadores, as chafaricas parceiros Uber… e não tivéssemos de entregar em IRS um terço do pouco que se ganha a esse chulo chamado estado…
Estado chulo este que me abandonou, a mim e a tantos outros pobres diabos lusos, à nossa sorte. No meio desta recente tempestade social, política e económica, que ainda perdura e perdurará. Nada vai voltar a ser como dantes. Como por exemplo, o respeitinho que este estado português me merece.
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* Liberal ou neo-liberal, ou seja lá como for que se queira baptizar a bandalheira!…
** Para além da Uber Green, em Portugal - ou seja, em Lisboa, Porto e Algarve (Faro e Albufeira) - existem também as classes Uber X e Uber Black. Mas a Uber lá fora é mais inventiva. E criou mais outras classes, tais como Uber XL, Uber Lux, Uber Select, etc.. Estas duas últimas talvez apenas outros rótulos para realidades semelhantes à corriqueira Uber Black, em várias cidades ao redor deste mundo.
sexta-feira, 29 de julho de 2016
• Rootless
This is how I feel today. Rootless.
Very few things or even nothing makes me feel connected to this place where I was born. To this large city area, Lisbon. Or even this old country, Portugal.
Influenced by another human being, responsible for one of the biggest life landmarks of mine which debuted on June, the 30th, last year, I want to set sails out of here.
There are a lot of factors that are increasingly disliking me here. Today, even too much sun, something that always boast us, the local people of this part of the world. But not only this.
This same people among which I was born is to me today beyond recognition. I do not identify myself with this collective. I feel to be a foreign body. An extra-terrestrial, left lost in this place, for some unknown reason to me.
I am also feeling like foundling by this portuguese state, which is so awkward in taking care of its citizens.
There’s almost no trade - and I have experienced many, already!… - where I can feel satisfied. Or to feel useful in this world. Or even just to allow me to go on swimming with my head over the water surface.
Even the Panem et Circenses that submerge us all here is becoming to me increasingly depressing!... Annoying, even.
I need to take roots somewhere, anywhere else. But for that I will need help. Unless a miracle happens, alone I will not be able to move myself out of here.
What I mostly wish nowadays is to be adopted.
Adopted by someone who I love and who loves me, with whom we feel good in companionship every single day, with both of us drawing out a common life project.
Or a community, wherever I may feel useful to this. Or a new country, with a more just, caring and dynamic society. Where my skills, renewed or acquired, could be better used and with intelligence, as well as the ones of all its citizens.
This is the way that I have and want to create new and strong roots and stuck in a blessed soil. And give a brand new meaning to this existence of mine on this planet.
As I recently said in another blog of mine, I'm a bum. But I’d like to become once again - or finally - a real citizen of this world.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
• Brexit
Eu cá aprecio quando estas cenas não decorrem como “eles” previam que acontecesse. Gosto destes safanões no barco. Venham mais!… É preciso mostrar-lhes, a esses que mandam na UE, União Europeia, que eles estão a conduzi-la para o seu fim.
Porque quando nos permitimos que seja a economia - ainda para mais uma coisa tão podre, hoje em dia - quem mais ordena, o que teremos sempre na mesa é o espectáculo degradante de uma (d)UE, (des)União Europeia.
Esta "bronquite" já devia ter acontecido há bués. Até já vinha sendo tarde, ás tantas!... Abram a pestana ou senão depois admirem-se que venham aí mais sequelas deste Brexit...
Curtia que o próximo happening político fosse mais ou menos assim como que um... Deutschexit.
Esta "bronquite" já devia ter acontecido há bués. Até já vinha sendo tarde, ás tantas!... Abram a pestana ou senão depois admirem-se que venham aí mais sequelas deste Brexit...
Curtia que o próximo happening político fosse mais ou menos assim como que um... Deutschexit.
sábado, 14 de maio de 2016
• Time Out of Mind - o filme
Tal como comecei a contar num post de um meu outro blog, Ideias Peregrinas (ou talvez não), há uns dias atrás, este notável “Time Out of Mind” foi o primeiro de uma trilogia de filmes a que assisti em três dias seguidos, seleccionados criteriosamente. Porque já há muitos meses que não tinha podido dar-me a esse luxo de ter esse simples passatempo que é ir ao cinema.
Praticamente desde que este ano começou que todos os dobrões que detinha sumiram da minha bolsa. Até para tomar um miserável café tive de andar a cravar.
Só não tombei na situação de ser sem-abrigo, tal como Richard Gere neste filme, que recebeu o título “Viver à Margem” no nosso mercado. Mas esse cenário não deixa de me assustar. Esse e o da solidão na minha velhice.
Por isso este filme bem difícil de ver - porque incómodo para as consciências de quem as tiver - tocou-me bastante, lá no fundo do meu ser.
A vida comunitária nas actuais sociedades dos países mais desenvolvidos deste mundo parece estar a “fabricar” pessoas sós a um ritmo cada vez mais acelerado. Laços familiares de entreajuda estão a desaparecer, porque a família na cidade grande é uma coisa que se vai extinguindo também.
A vida comunitária nas actuais sociedades dos países mais desenvolvidos deste mundo parece estar a “fabricar” pessoas sós a um ritmo cada vez mais acelerado. Laços familiares de entreajuda estão a desaparecer, porque a família na cidade grande é uma coisa que se vai extinguindo também.
A família enquanto instituição secular já só deve existir no meio rural. E mesmo aí só quando tivermos várias gerações coabitando na mesma aldeia e não apenas aquele membro mais idoso duma dada família que viu todos os mais novos partir de lá.
Eu quis contrariar a condenação à solidão que sinto que me persegue quase desde sempre. Porque como me fizeram reconhecer, eu sou aquilo a que se chama de uma old soul.
Recentemente vi uma oportunidade de alcançar um patamar que me afastasse da solidão característica das pessoas como eu. Quando me apaixonei por uma mulher que vi como minha semelhante.
“Tu estás só e eu mais só estou”, como diz a Canção do Engate de António Variações. Sonhei que podíamos juntar as nossas duas solidões que atravessamos hoje neste mundo.
Mas nunca nada é assim tão fácil. Há que conjugar projectos de vida em comum. E cada um de nós vinha já alimentando os seus sonhos enquanto éramos sós. E esses sonhos, os meus e os dela, eu não os consegui conciliar. Ainda.
Ela nunca compreendeu o meu interesse nela enquanto alma lindíssima. E cuidou talvez que eu quereria usar a nossa aproximação para um intuito último de emigrar para esse país um pouco próspero onde ela vive desde há cinco anos.
Eu de facto quis usar essa nossa aproximação, sim, mas para acabar com a minha solidão - e talvez a dela também - e encontrar um sentido para os anos que me restam. Ter alguém para cuidar, fosse onde fosse que um dia quiséssemos e pudéssemos viver juntos.
Começámos a viver juntos de uma forma sem grande - ou nenhuma - preparação da minha parte. Uma aventura, um verdadeiro tiro de sorte no escuro. E eu perdi a aposta que fiz em mim mesmo.
Não foi possível, por minha parte, continuarmos a viver juntos. Por pura incompetência minha. E agora pago caro por essa derrota. Estou mais só do que nunca. E já não me sinto bem nem mesmo em lugares lindos outrora sonhei um dia viver.
Mas ao menos ela salvou-se. Já não está só, como quando nos conhecemos um dia. E ainda bem por ela. A sua tenacidade é bem maior do que a minha. Ela merece tudo.
Eu é que agora tenho pelo meu lado que fazer por tudo para não acabar no status quo como o que o Richard Gere tão bem retratou neste intragavelmente singelo “Viver à Margem”.
Quero mesmo muito deixar de ter a condição de cidadão rasca. Mas vou precisar de ajuda. Como todos nós precisamos. O pior é que uma old soul não consegue aceitar ajudas de qualquer maneira. Só vindas de outra old soul.
domingo, 24 de abril de 2016
• NIF? Isso come-se?…
- Quer factura com número de contribuinte?
- Não, obrigado. Não sou contribuinte. Deixei-me disso…
Este é invariavelmente o diálogo que interpreto cada vez que vou comprar algo. Já conheço esta deixa e o texto que tenho de dizer de cor. E os diferentes actores deste palco que é a vida também sabem bem o seu papel. Depois das palavras trocadas fazem sempre a mesma cara de espanto e devolvem-me aquele olhar com que me classificam de ave rara.
“Não é contribuinte?.. Olha-me este cromo!… Como se uma merda dessas fosse possível…” - É o que eu julgo ouvir dentro das suas pobres cabecitas a pensar em surdina.
E a verdade é que é mesmo possível. Adquiri recentemente o prazer de ter dinheiro no bolso para o que me der na realíssima gana. Não ando por aí a pilhar carteiras nem a vender substâncias ilegais. Suo honestamente p’ra caramba todos os dias. Mas o fisco não verá nem um pingo desse suor.
Eu cá agora só quero é viver na economia paralela. Nos Panama Papers dos pobres e indefesos.
O estado português não me quis ajudar quando eu mais precisava deste. E só quis extorquir-me até não me deixar sem quaisquer meios de subsistência. A ignominiosa AT, Autoridade Tributária, bem como a ineficaz Segurança Social e o inócuo IEFP, Instituto do Emprego e Formação Profissional, pelas suas incompetências e falta de sentido da sua missão social fizeram com que o estado português me tenha perdido como cidadão válido.
Talvez venha um dia a ser outra vez um cidadão íntegro nesta lusa sociedade. Mas até lá o estado português terá de pagar com língua de palmo as inúmeras sacanagens que a sua máquina desumanizada comigo cometeu.
Já não temos hoje os filhos de puta de outrora nas cadeiras do poder no nosso Portugal. Mas ainda vai demorar mais um pouco até isto ser de novo uma democracia e já não uma bancocracia. Até lá, ainda há uns imbecis duns cabrões por aí a quem eu terei porventura de foder os cornos. A bem da nação. Como serviço público.
quarta-feira, 9 de março de 2016
• Marcelo
Como será natural num cidadão rasca, não sou chegado a cerimónias protocolares. Mas fiz questão de me obrigar a ver na pantalha a da tomada de posse do nosso novo presidente da república. Sobretudo porque era o último dia do cessante presidente. E para ficar com a certeza que não teremos uma outra múmia daqui por uns anos.
Julgo bem que não. Marcelo sempre foi bem diferente do outro, o figo seco. Não se deve deixar ficar fechado aos poucos na mesma redoma que o Cavaco se permitiu. É mais inteligente do que isso.
Depois de engolir a coisa pela tv, convenhamos que o nosso novo homem esteve bem no seu discurso de tomada de posse. Ou deu ao menos a ideia que sentia bem mais o que dizia.
Quando, por exemplo, nos jurou que irá ser um guardião permanente e escrupuloso da Constituição e dos seus valores, achou por ben realçar isto:
“O valor do respeito da dignidade da pessoa humana, antes do mais.
De pessoas de carne e osso. Que têm direito a serem livres,
mas que têm igual direito a uma sociedade em que não haja,
de modo dramaticamente persistente, dois milhões de pobres,
mais de meio milhão em risco de pobreza, e, ainda, chocantes diferenças entre grupos, regiões e classes sociais.
Salvaguardar a vida, a integridade física e espiritual, a liberdade
de pensamento, de crença e de expressão e o pluralismo
de opinião e de organização é um dever de todos nós.
Como é lutar por mais justiça social, que supõe efetiva criação
de riqueza, mas não se satisfaz com a contemplação dos números, quer chegar às pessoas e aos seus direitos e deveres.”
Como não podia deixar de ser, amei que fossem trazidos para dentro da Assembleia da República esses dois milhões de pobres, que ainda podem engordar mais em número.
E também a lembrança de algo que deveria ser um óbvio ululante mas nunca pareceu sê-lo para aqueles que se vêem hoje final e felizmente para todos nós, os outros, arredados das cadeiras do poder. Que não se deviam satisfazer com a contemplação dos números.
Porque assim esses tontos pareciam tão simplesmente relegar as pessoas para segundo plano.
Julguei mais adiante neste bota-faladura que Marcelo também está e certamente continuará a estar atento áqueles - entre os quais eu me incluo - desvalidos cidadãos e suas duras vidas que as máquinas dos estados podem inadvertida e cegamente esmagar. Isso repassa quando fala de uma certa “mão invisível” nestas seguintes palavras:
“Dito de outra forma, o poder político democrático não deve impedir, nos seus excessos dirigistas, o dinamismo e o pluralismo de uma sociedade civil – tradicionalmente tão débil entre nós –, mas não pode demitir-se do seu papel definidor de regras, corretor de injustiças, penhor de níveis equitativos de bem-estar económico e social,
em particular, para aqueles que a mão invisível
apagou, subalternizou ou marginalizou.”
Mais tarde, não deu um puxão de orelhas a uma certa senhora que se gabou de ter feito com que os cofres do estado ficassem cheios. Porque a senhora em questão já tem uns abanos maiores do que a média da população portuguesa. E porque Marcelo não seria deselegante a esse ponto. Mas não se coibiu, para meu deleite, de afirmar isto:
“Temos, para tanto, de não esquecer, entre nós como na Europa
a que pertencemos, que, sem rigor e transparência financeira,
o risco de regresso ou de perpetuação das crises é dolorosamente maior, mas, por igual, que finanças sãs desacompanhadas de crescimento e emprego podem significar empobrecimento
e agravadas injustiças e conflitos sociais.”
No finalzinho do discurso, como não podia deixar de ser em Marcelo, quis mostrar-nos que é um homem que lê livros. E que lê os melhores pensadores sobre o que é isso que chamamos de Portugal. E agora passo a fazer uma citação elevada ao quadrado. Ou seja, vou citar Marcelo a citar Torga:
“O mundo não precisa hoje da nossa insuficiente técnica,
nem da nossa precária indústria, nem das nossas escassas
matérias-primas. Necessita da nossa cultura e da nossa vocação
para o abraçar cordialmente, como se ele fosse
o património natural de todos os homens.”
- Miguel Torga
Isto devolve-me alguma renovada esperança em nós, portugueses, e em mim em particular. É que eu já não me sinto com valor para quase nada. Mas acho que ainda tenho uma boa dose de cultura geral. E sou bom em abraços, modéstia á parte. ;-)
Bom, e agora é respirar de alívio, que o erro de casting dos últimos dez anos esfumou-se. E foi substituído com vantagens para todos. Boa ventura ajades porque vos ides e nos leixades, senhor Silva!…
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