terça-feira, 23 de abril de 2024
• Pig butchering scams
Confesso. Caí que nem um patinho neste novel conto do vigário dos tempos modernos, cujo termo técnico é “pig butchering scams”. E vou fazer serviço público emitindo aqui neste blog um aviso à navegação, para que mais ninguém seja “indrominado” como eu fui.
A coisa funciona assim: recebemos uma mensagem de texto sms ou no WhatsApp, vinda dum contacto ainda desconhecido, como é evidente. Que nos questiona se queremos ganhar rios de dinheiro fazendo tarefas simples, como visualizar canais ou vídeos no YouTube e páginas no Instagram, subscrever esses canais, seguir contas no Instagram e/ou dar likes no que se visualiza. Seems like a piece of cake, right?…
Regra geral, são supostas agências de marketing digital que nos contactam. E que nos direcionam para passarmos a comunicar via Telegram.
Recebemos, como exemplo, cerca de €1 a €3 por cada visualização , isto a princípio. Depois somos aliciados a passar a receber bem mais executando umas ditas “tarefas de comerciante”, também designadas por “tarefas de shopping”.
Aqui é necessária muita atenção!... É nesta fase que começa o perigo.
Estas tais tarefas consistem basicamente em depósitos em dinheiro que nos são solicitados para contas bancárias das quais nos fornecem o respectivo IBAN.
Inicialmente os depósitos são pequenos, relativamente na ordem dos €15 a €20. E são-nos prometidas a devolução desses depósitos, ao que se acrescenta uma comissão de cerca de 15%. Exemplo: investimos €20 e recebemos de volta €26. Nada mau, julgamos nós…
Se fosse apenas assim para sempre, era uma coisa aceitável. Mas não é.
Continuamos a ser aliciados a passar a receber mais pelas tarefas simples, as de visualizações. Só que os depósitos pedidos passam a ser cada vez de maiores valores. E imprevisíveis. Podem subir exponencialmente. E além disso, as ditas “tarefas de comerciante” podem implicar 2 a 3 depósitos consecutivos. E se não se puder fazer o último, os depósitos anteriores não são devolvidos, muito menos com as comissões prometidas como engodo.
O que aconteceu comigo foi que me solicitaram um primeiro depósito de €15. Recebi de volta €18. Isto numa primeira tarefa de comerciante.
Na segunda inverti €40, porque já não poderia investir de novo apenas €15, e foi-me devolvido €63. A coisa estava a correr bem, pensei...
À terceira tarefa de comerciante - e a última, como fui induzido a pensar que sucederia - já foram pedidos 3 depósitos consecutivos. O primeiro de €100, seguido de outro de €330, os quais eu tinha ainda saldo para poder cumprir. E neste passo fiquei a desejar que de forma aleatória não nos fosse pedido um terceiro depósito. Porque antes isso não tinha acontecido. Talvez de propósito para não “espantar a caça”.
No fundo, trata-se duma estratégia de ir engordando o porco - que somos nós, os que caem neste esquema - para depois o bicho ficar bem anafado e pronto para a matança. Para a estocada final.
Essa estocada surgiu-me então com um pedido dum depósito de €1.300. Se não se faz esse depósito, perde-se o direito ao reembolso dos depósitos anteriores. É preciso cumprir este último. E eu não pude. Não tinha essa grana toda nas minhas contas bancárias.
Foi assim que os meliantes ficaram-me com €430 retidos até hoje numa plataforma web, como a que mostro aos lado. Onde as quantias que se depositam são convertidas em criptomoedas. E aumentam instantaneamente através dum simples clique. Deve ser isto que os gajos que lidam com bitcoins chamam de “mineirar”. E é assim que se podem pagar comissões sobre os valores investidos nos depósitos.
Espero agora desforrar-me em breve desta cacetada que a vida me deu com a participação num famoso quiz show televisivo… É preciso manter a fé no universo.
É isto. Não caiam nestas esparrelas. Saquem só os pagamentos iniciais por tarefas simples. À primeira tarefa de comerciante, párem!… Deste modo fazem com que estas organizações percam dinheiro convosco. E não o contrário. É bem feito para esses cabrões.
Os nossos órgãos de comunicação social aconselham-nos a denunciar estes casos às autoridades competentes para investigar crimes e burlas na internet. Não se deve deixar de o fazer, mas… Pode-se imaginar que não deve ser nada fácil também apanhar estes burlões.
Por último, “dizer que*” houve um dia um mamborreiro nos Estados Unidos que caiu num esquema** destes e resolveu por bem rentabilizar esse incidente filho da puta escrevendo um livro e porventura ganhando uma boa receita com as vendas deste.
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* Abomino esta expressão, tão corrente hoje em dia entre estagiários de cursos de jornalismo…
** Que parece que já tem anos de existência e que até já houve um banqueiro dum banco graúdo que perdeu bué da pilim com esta g'anda merda.
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