sábado, 17 de outubro de 2020

• I'm a luxury shopper

Ontem comprei na loja Hermès de Lisboa esta mala Kelly k28.

Dito assim, para quem é leigo na matéria, este facto não parece nada de relevante. Mas para os entendidos, isto é uma façanha ilustre, não ao alcance de qualquer um, pelo menos à primeira démarche.


Estou a enveredar por uma nova actividade. Sou um luxury shopper. Ou mais completamente, um personal fashion and luxury shopper.


Eu pensava que um tal player na nossa sociedade era muito dispensável. Quem é que precisa de alguém para fazer as suas compras no seu lugar?… 


Creiam-me, não basta bater com um grosso maço de notas num balcão para comprar o que quer que seja. É preciso também ter uma aparência credível. Mostrar conhecimento sobre o que se quer adquirir. E mais uns poucos segredos, que são a alma do negócio e que, portanto, vou guardá-los para mim.


As marcas de luxo podem ter como política não vender tudo sem mais nem menos a qualquer potencial cliente. Podem reservar alguns artigos mais exclusivos, produzidos em edições limitadas, só para quem entendam corresponder a certos standards. E é aí que um luxury shopper pode dar jeito.


Ainda há dois dias eu pensava “it’s just a bag, for heaven’s sake!…”, quando debutei a tentar compreender os meandros deste mercado dos artigos de luxo...


Ontem, quando vivenciei e tentei interpretar toda uma necessária mise en scène para a aquisição daquela mala Kelly, e sobretudo quando a tive diante dos olhos ao vivo - cor terre battue e couro epsom - conclui que… Não, não é apenas uma mala de senhora. 


É um objecto de culto, com todo o mérito. É um reconhecido símbolo* dum subentendidamente elevado status social.


E eu estou rendido à futilidade. Aos pequenos mistérios das vidas de faz de conta. Afinal, acredito que eu até daria um razoável actor.


Se eu começasse a contar tudo o que sei e que experienciei, os meus leitores diriam que eu fantasio bués. E no entanto…

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* Para que se tenha um ideia, existem empresas nos States que alugam estas malas Kelly - e outras, está bem de ver - à hora para que senhoras as possam exibir em eventos mais especiais e elitistas.