quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
• Eu vivo num mundo que...
Eu vivo num mundo que se está a desmoronar como se fosse um castelo construído na areia por uma criança num bucólico fim de tarde de praia das férias escolares de verão.
Um sintoma disto é o facto de a humanidade continuar, como desde sempre, a crescer em população a nível mundial, ao mesmo tempo em que começamos todos a ser em número excedentários para os requisitos actuais de toda a actividade económica em termos globais.
O crescimento económico à escala mundial, agora que o gigante chinês acordou e está como um lateiro a absorver para si quase toda a responsabilidade da produção dos bens de consumo que todos queremos comprar, atinge nesta época cinzentona um ponto de saturação mais do que chato!...
Já não há mais nenhuma nação nesta Terra onde o consumo possa vir a crescer de um modo significativo e repentino, como o foi na China. E em quase todos os países do mundo ocidental, o consumo está a entrar numa curva descendente. Ou seja, o combustível desse crescimento económico que tinhamos vindo a viver numa boa até agora está a esgotar-se…
Este ponto de saturação da economia mundial cria um ciclo vicioso difícil ou quiçá impossível de se escapar. Crescimento do consumo mundial a desacelerar gera menos necessidade de postos de trabalho. E os postos de trabalho necessários a reduzirem-se em número gera por sua vez mais retracção do consumo. E não saimos disto!…
Os nossos queridos líderes políticos mundiais não nos querem alarmar muito. Mas deverão estar a dormir bastante mal à noite if they really do care about all of us. E lá vão deixando escapar umas dicas que nos deveriam fazer reflectir. Mas nós também estamos todos demasiado dormentes!…
Não sei se alguém reparou mas Barack Obama, no seu discurso inaugural que leu tão bem nesta recente tomada de posse do segundo mandato presidencial seu, a páginas tantas lá foi soltando que (sic) "a América tem doravante de se empenhar cumó caraças em criar reais oportunidades de desenvolvimento económico interno que impeçam que muitos dos seus quadros mais qualificados tenham de procurá-las fora do seu país".
Isto fez-me lembrar, a uma escala bem menor, o bom do nosso Pierre Pas Lapin a sugerir há uns tempos idos a uma cambada dos seus conterrâneos tugas - nomeadamente, aos coitaditos dos prof's sem colocação - que existiriam oportunidades para eles aqui escassas mas ainda bastantes por explorar em outros países lusófonos… Tipo Angola, sei lá!... Ou noutras mais francas palavras, vejam se se safam lá fora, carago, qu'eu acho que não vou dar conta do recado cá dentro, okay? Tão a topar o que eu quero dizer, certo?…
O que o nosso Pedrito sussurou é basicamente o mesmo que o presidente americano proclamou. Só que dizer uma coisa destas no caso do Barack toma umas proporções completamente diferentes!… E creio que ainda não vi ninguém levantar esta lebre que eu estou p'ráqui a vos alertar, ó gentes!…
A O.I.T., Organização Internacional do Trabalho, ou na língua dos gringos, a I.L.O., International Labour Organization, anunciou umas previsões suas, também nesta semana tão gira, em que estima que o desemprego a nível mundial vai aumentar brutalmente este ano, em relação ao passado 2012, e assim continuará até pelo menos 2017. E sabemo-lo até este próximo ano de 2017 se calhar tão-só porque não se atrevem a esticar mais os seus cálculos. Ou não querem pintar o quadro mais negro ainda.
Mais uma vez, poucos ou nenhuns deram importância a estas miudezas! Mas para isso cá estou eu. Já que não podemos contar com as diferentes oposições nacionais e democraticamente eleitas dos paizecos em que vivemos. Que parece que pararam no tempo e deixaram o seu discurso público oficial cristalizar.
E que, é claro, de toscas que são conduziram-nos ao nosso status quo actual. Oito séculos de História para acabarmos nas mãozinhas duma trampa amorfa chamada Troika!… Que mais se assemelha a um saco de gatos em que ninguém se entende. Ou cuja desorientação e sentido estratégico lembram um grupo quase exclusivamente de homens pouco sagazes que se entrega a uma orgia num quarto escuro numa discoteca escabrosa dum qualquer bairro da luz vermelha.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
• Eu vivo num país que...
Eu vivo num país que acho que se vai auto-destruir em pouco tempo.
Eu vivo num país em que foi agora diagnosticado tardiamente cancro na maldita da economia. E em que prescreveram a esta desgraçadinha sessões de quimioterapia bem pesadas, e sem término certo. Onde a paz de espírito dos seus cidadãos está a desaparecer a (pedro) passos (coelho) largos, que nem o cabelo.
Eu vivo num país onde o prazer de viver está a sumir. Onde estou a perder o apetite por tudo ou quase tudo. Onde quem ainda conserva algum apetite o vê ser estragado, sistematicamente.
Onde a directora de um Banco Alimentar contra a fome que nos faz festas no pêlo, a nós, pobres irresponsáveis, assiste de camarote ao imoral e irracional desperdício de produtos alimentares nas grandes cadeias de distribuição. Mas que não se coibe de nos atirar pérolas da sua sabedoria, adquirida aquando da sua vivência em Bruxelas, como funcionária na sede da União Europeia. Sendo a melhor dessas inconscientes boutades suas a famosa e mui sapiente expressão "Se nós não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não podemos comer bifes todos os dias".
Onde uma dessas grandes cadeias de distribuição alimentar até desiste de promover o consumo. Ao ponto de enveredar pela via oposta, incentivando a poupança com anúncios de televisão em que uma dona de casa chamada Raquel - típico estereotipo de uma acéfala classe média, resignada com o seu triste destino - exclama uma inqualificavelmente brilhante punch line como... "a carne de ontem é o empadão de amanhã"!!!… Cinco estrelas, ó senhores do Continente! Isto é o advertising tuga dos nossos dias no seu melhor...
Eu vivo num país onde está tudo a fechar! Onde um dos meus restaurantes preferidos para ir "encher a malvada" à maneira, de uma cadeia americana de comida tex-mex really damn good, encerra sem aviso prévio, sem mais nem menos, e sem que provavelmente estivesse a sofrer uma quebra significativa do seu volume de negócio. Ainda estou em estado de choque!... É que isto, do meu ponto de vista pessoal, é um golpe desses sacanas desses yankees bem pior do que os cabrões da Moody's nos considerarem lixo!..
Onde o governo deste país promove insensatamente a economia paralela quando deixa estupidamente numa evitável incerteza todos os trabalhadores, que são obrigados a descontar por exercerem - ainda - uma actividade remunerada, sem saberem o que o fruto do seu suor lhes vai render ao certo nos seus bolsos no fim do mês! Como um patrão daqueles bem usurários, para quem o salário dos que estão sob a sua alçada é um pormenor de somenos importância, ora essa!...
Onde uma silly season política e social, encetada há uns largos dezoito meses ou mais, parece ter vindo para assentar arraiais. Como uma erva daninha. Que já não tem fim à vista. E até lá vai, digo eu, aumentando, quiçá a um ritmo exponencial. Para nossa grande e colectiva surpresa. Ou vai daí, talvez não... Alguns de nós saw it coming our way. E já fizeram o que se impunha: bazar daqui p'ra fora.
Onde uma dessas grandes cadeias de distribuição alimentar até desiste de promover o consumo. Ao ponto de enveredar pela via oposta, incentivando a poupança com anúncios de televisão em que uma dona de casa chamada Raquel - típico estereotipo de uma acéfala classe média, resignada com o seu triste destino - exclama uma inqualificavelmente brilhante punch line como... "a carne de ontem é o empadão de amanhã"!!!… Cinco estrelas, ó senhores do Continente! Isto é o advertising tuga dos nossos dias no seu melhor...
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