quarta-feira, 6 de outubro de 2021

• Pandora papers

No princípio era o verbo. E também era tudo offshores, por toda a face da Terra, quando ainda era plana.

Mas depois e à medida que as sociedades humanas se foram desenvolvendo, os poderosos criaram esse conceito que são os impostos. A tal atitude de "Dar a César o que é de César", como eufemisticamente J. Cristo definiu esse fenómeno.

Um dia no entanto a classe política que nos governa a todos deve ter interiorizado que foram longe demais com a sua exigência de couro e cabelo que faziam a todos aqueles submissos que de um modo sacana apelidaram de “contribuintes”.

Então vislumbrou-se a necessidade de haver uma válvula de escape. Como tiveram de escolher um nome para esse instrumento, alguém terá alvitrado “offshores”. E a coisa pegou.

Só que… Não convinha nada que essa válvula de escape fosse do conhecimento geral. E muito menos que todo o bicho careta a usasse. Senão, todos iriam parar de pagar alguns impostos. 

Há impostos a que não se pode fugir, como é o caso dos impostos sobre o consumo, como o IVA. 

Já os impostos que incidem sobre os rendimentos, que nos custam tanto a ganhar, ou sobre heranças, que custaram tanto a amealhar aos nossos ascendentes, entre dinheiro e bens materiais…

É difícil aceitar que o estado ponha a mão naquilo para o qual não contribuiu ou ajudou nada. Daí que a evasão fiscal vá sempre buscar a este sentimento de injustiça a sua grande motivação e razão de existir.

Este jogo do gato e do rato é um desporto que sempre e para sempre será praticado. E o gato sabe que só pode perseguir o rato q.b.. Senão um dia o rato farta-se de levar demasiada porrada e embala a trouxa e zarpa para ir morar noutro pardieiro.

Por isso, o gato, ou seja o fisco, aplaude que haja offshores e não quer que estes alguma vez desapareçam. E pode ficar descansado, que nem todo o rato é mesmo rato. Ou esperto. Ou menos ainda chico-esperto.

E assim o sistema todo fica em equilíbrio. Mas lá muito de vez em quando vêm uns gajos desagradáveis que acham que têm de estar sempre a dizer que o rei vai nu. E põem a boca no trombone revelando listas de nomes de ratos que podendo perfeitamente pagar impostos como todos os outros não o fazem.

O último happening que estes gajos pariram foi baptizado de “Pandora papers”.

Só que estes tais gajos são só meio-espertos. Desconhecem o que é ser chico-esperto e qual é o modus operandi inerente de quem está nesse nível de hierarquia.

E se fosse preciso mais uma prova de que “portuguese do it better”, ei-la: os Pandora papers só conseguiram apanhar entre montes de big heads globais três peões de brega lusitanos, uns amadores pouco representativos da National Corruption League.

Esses três palermas* são o que se chama de “boi de piranha” na pecuária da Pindorama. Haverá mais do que três, claro, óbvio ululante!… Mas estes três foram os que todos os outros empurraram borda fora para serem sacrificados.

Pelo andar da carruagem, e porque estes Pandora papers são tão-só a segunda temporada de outra novela, os "ostracizados" Panama papers, acredito que a montanha vai parir uma vez mais aquilo que é costume: um camundongo.

E deste modo os ratos não estarão em vias de extinção. E os gatos podem dormir ronronando e descansadinhos da vida. E todos viverão felizes para sempre.

Vitória, vitória, acabou-se a estória!... 

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Ou então não quiseram pagar. Há que pôr em cima da mesa esta hipótese também.