segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

• A praga do coaching

Recentemente passou-me debaixo das vistas um artigo de opinião assaz interessante… Com o título “Deus pode ir de férias…”.

Neste artigo, imbuído dum espírito meio ou quiçá totalmente clerical, encontrei contudo frases que me soaram a música para os meus ouvidos, quando as leio em surdina. Eis algumas:

“Parece que a nova religião do homem moderno 
é o empreendedorismo. De matriz materialista, ela substituiu
os santos do altar por fotografias de homens de sucesso,
e os seus livros sagrados são os de auto-ajuda.
O objectivo desta cultura é o sucesso, seja lá o que isso for!”

“Ou seja, vende-se a ideia de que o potencial dos indivíduos
é ilimitado e podem conquistar tudo o que querem,
se fizerem muita força…”

Abomino essa moda actual que é o coaching. Tenho para mim que o talento é algo quase inato ou fruto do acaso.

O talento não é muito passível de ser educado, se não houver de antemão uma sementezinha que desde sempre exista lá no fundo da alma de cada um de nós. Semente essa que se pode ser uma visão, um sentido de inovação, uma chama de criatividade.

Mas isto sou eu a falar, que sou uma old soul… 

O coaching tem de facto de vender essa ideia de que o potencial dos indivíduos é ilimitado. Mas um bom coach no fundo não acredita nisso. Só que não pode dizer outra coisa.

No coaching tem de se fazer por acreditar que a qualidade nascerá da quantidade.

É preciso incutir em todos a fé que o sucesso é alcançável por todos para que no final pelo menos alguns poucos cheguem a alcançá-lo efectivamente.

Uma das áreas de negócios que depende e promove muito o coaching é o marketing directo, com os seus esquemas em pirâmide. Onde as organizações têm de recrutar o maior número possível de aderentes, dando a ilusão a todos os recrutados que conseguirão sucessos absolutos. Sabendo de antemão que não vai ser assim. Mas é preciso que a ilusão passe.

Na persecução superior a tudo do sucesso das organizações, aqueles indivíduos mais débeis a quem a ilusão tenha caído e tenha feito mossa no seu ego têm de ser considerados danos colaterais.

Preocupações de carácter ético têm de ser esquecidas quando esses danos colaterais forem a esmagadora maioria e os casos de sucesso que se aproveitam uma escassa minoria. A bem da sustentabilidade ou sobrevivência de organizações deste carácter.