quarta-feira, 21 de setembro de 2011

• Nine Eleven


Atrasado em tudo como eu ando, desligado das coisas do mundo, só mais de uma semana depois de terem passado 10 anos sobre essa data que mudou o mundo e a todos nós, o 11 de Setembro de 2001, resolvo botar faladura sobre o acontecimento.

Há dez dias atrás, não reparei que existissem muitos bloggers a falar também sobre o 9/11. E foi com alguma surpresa que li logo num blog, A Pipoca Mais Doce, - onde eu a priori nem esperaria assim grandes dissertações sobre a data fatídica - algo de bem interessante e inspirador.

A "nossa" Pipoca diz justamente algo que sempre interiorizei: "Não é um exagero dizer que este dia mudou o mundo. Tornou-nos a todos mais desconfiados, mais cínicos, mais inseguros.".

E conta-nos também como viveu esse dia que se nos assemelha já tão longínquo... E como ela, vou passar a fazer o mesmo. Contar como esse dia caiu em cima de mim. E o que se seguiu.

Era uma terça-feira igual às outras. Eu tinha acabado de gozar duas semanas de férias no pinhal de Leiria, baseado numa casa de pescadores da praia da Vieira. Tinha regressado ao dever da labuta diária na véspera, segunda-feira, como é normal. 

E a semana adivinhava-se calma. O fim do verão não é época de grande agitação no mercado da publicidade. Eu estava nessa altura numa agência que tem a fama de ser a mais criativa do mundo: a Saatchi & Saatchi. Na sua sucursal portuguesa, em Lisboa.

Eram quase duas da tarde, acho eu. Regressava de ter almoçado fora, talvez na extinta Feira Popular de Lisboa, em frente aos nossos escritórios. Estava a "acordar" o meu Mac, ia talvez ler uns emails antes de ver o que havia a fazer como trabalhos a despachar.

Uma colega minha vem-me dizer que tinha havido um avião que chocara contra um arranha-céus em New York. Alguns outros de nós já estavam a ver imagens da notícia no televisor da sala de reuniões. Olho para as torres do World Trade Center na pantalha e lembro-me de uma foto do choque de um avião contra o Empire State building, nos anos cinquenta, não sei precisar. Ainda a preto e branco. E digo com os meus botões que acidentes aeronáuticos destes só na América podem acontecer...

Volto para o meu estúdio gráfico, para ficar à espera que os meus "clientes" internos me venham solicitar os serviços que lá presto, não muito convencido de que o façam de facto... e eis que uns minutos depois, a mesma colega me informa que houve um novo embate de outro avião na outra torre do WTC...

Wow!... O mundo inteiro acorda! Acabámos de levar um murro no estomâgo. Isto não é algo casual. É algo orquestrado. Por algum génio do mal. Mas quem?... Quem poderá estar por trás de uma coisa a esta escala? Contra a nação mais poderosa do mundo... Que é afinal tão frágil... Mas agora vemos... Somos todos frágeis, afinal. Somos todos tão indefesos contra os monstros que pensaram isto!...

Quem quer que tenha querido que nós todos no mundo dito ocidental tivéssemos medo, conseguiu-o.

E o medo alastrou em ondas de choque, como quando uma pedra é atirada para o centro de um lago quieto. E o mundo dos negócios, atingido em cheio no seu coração, onde as pessoas não são particularmente reputadas pela sua coragem colectiva e são-no mais pelo pânico tão frequente... reagiu com seria de esperar.

Muitas companhias multinacionais com sede em New York cavalgaram a vaga de caos e destruição criados e desataram a encerrar muitas das suas sucursal branches. Cerca de duas semanas depois do 9/11 ficámos a saber que a representação local em Portugal da Saatchi & Saatchi ia ser fechada, por decisão suprema dos nossos big bosses yankees.

Ainda tive a sorte de receber um balão de oxigénio e fui contratado por outra agência de publicidade com headquarters nos States. Uma das tais que se dizem detidas por um dos famigerados fundos de pensões de reformados da Florida. Tive emprego por mais uns seis meses. Até que fomos todos once more fired.

Iniciei então uma travessia do deserto no desemprego por um largo período de alguns anos. E foi assim que me resolvi tornar um cidadão rasca.

E sobre o que é isso de se ser rasca na cidadania, dissertarei num próximo capítulo...

Nunca mais voltei a trabalhar no advertising. E isso não será mau de todo. Porque nesse mundo onde o brilho da criatividade de cada um é sempre tão efémero e tantas vezes vão, faz-se de tudo para dar nas vistas um pouco mais do que o vizinho do lado. E depois saem coisas onde os escrúpulos são esquecidos. Como o anúncio mostrado na imagem deste post, em cima.

O que pensarão desta criatividade sui generis os familiares das vítimas do 11 de Setembro?...